Soneto à lua
Rio de Janeiro , 1938
Por que tens, por que tens olhos escuros E mãos lânguidas, loucas e sem fim Quem és, quem és tu, não eu, e estás em mim Impuro, como o bem que está...
Soneto a Octávio de Faria
Oxford , 1939
Não te vira cantar sem voz, chorar Sem lágrimas, e lágrimas e estrelas Desencantar, e mudo recolhê-las Para lançá-las fulgurando ao...
Soneto a Pablo Neruda
Rio de Janeiro , 1957
Quantos caminhos não fizemos juntos Neruda, meu irmão, meu companheiro... Mas este encontro súbito, entre muitos Não foi ele o mais belo e verdadeiro? Canto maior,...
Soneto a quatro mãos
Rio de Janeiro , 2004
(com Paulo Mendes Campos) Tudo de amor que existe em mim foi dado. Tudo que fala em mim de amor foi dito. Do nada em mim o amor fez o infinito Que por muito tornou-me...
Soneto ao caju
Rio de Janeiro , 2004
Hollywood Amo na vida as coisas que têm sumo E oferecem matéria onde pegar Amo a noite, amo a música, amo o mar Amo a mulher, amo o álcool e amo o...
Soneto ao inverno
Londres , 1939
Inverno, doce inverno das manhãs Translúcidas, tardias e distantes Propício ao sentimento das irmãs E ao mistério da carne das amantes: ...
Soneto com pássaro e avião
Rio de Janeiro , 2004
De "O grande desastre do six-motor francês Leonel de Marmier, tal como foi visto e vivido pelo poeta Vinicius de Moraes, passageiro a bordo" Uma coisa é...
Soneto da desesperança
Rio de Janeiro , 2004
De não poder viver sua esperança Transformou-a em estátua e deu-lhe um nicho Secreto, onde ao sabor do seu capricho Fugisse a vê-la como uma...
Soneto da Ilha
Rio de Janeiro , 2004
Quarta feira de cinzas, Niterói Eu deitava na praia, a cabeça na areia Abria as pernas aos alísios e ao luar Tonto de maresia; e a mão da maré...
Soneto da madrugada
Rio de Janeiro , 1946
Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! ...
Soneto da mulher ao sol
Rio de Janeiro , 1962
A bordo do Andrea C, a caminho da França Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz A flor dos lábios entreaberta para o...
Soneto da mulher casual
Rio de Janeiro , 2004
Por não seres aquela que eu buscava Nem do meu ontem nada recordares, Por não haver, aquém e além dos mares, Alguém mais relva e seda, avena e...
Soneto da mulher inútil
rio de Janeiro , 1954
De tanta graça e de leveza tanta Que quando sobre mim, como a teu jeito Eu tão de leve sinto-te no peito Que o meu próprio suspiro te levanta. Tu, contra quem me esbato...
Soneto da rosa
Rio de Janeiro , 1954
Mais um ano na estrada percorrida Vem, como o astro matinal, que a adora Molhar de puras lágrimas de aurora A morna rosa escura e apetecida. E da fragrante tepidez sonora No recesso, como...
Soneto da rosa tardia
Rio de Janeiro , 1957
Como uma jovem rosa, a minha amada... Morena, linda, esgalga, penumbrosa Parece a flor colhida, ainda orvalhada Justo no instante de tornar-se rosa. Ah, porque não a deixas intocada...