voltarPoesias

Soneto ao caju

Rio de Janeiro , 2004

Hollywood
Amo na vida as coisas que têm sumo 
E oferecem matéria onde pegar 
Amo a noite, amo a música, amo o mar 
Amo a mulher, amo o álcool e amo o fumo. 

Por isso amo o caju, em que resumo 
Esse materialismo elementar 
Fruto de cica, fruto de manchar 
Sempre mordaz, constantemente a prumo. 

Amo vê-lo agarrado ao cajueiro 
À beira-mar, a copular com o galho 
A castanha brutal como que tesa: 

O único fruto - não fruta - brasileiro 
Que possui consistência de caralho 
E carrega um culhão na natureza.

 
Hollywood, 1947.