Soneto de luz e treva
Rio de Janeiro , 2004
Itapuã Para a minha Gesse, e para que ilumine sempre a minha noite Ela tem uma graça de pantera No andar bem-comportado de menina. No molejo em que vem...
Soneto de maio
Rio de Janeiro , 1957
Suavemente Maio se insinua Por entre os véus de Abril, o mês cruel E lava o ar de anil, alegra a rua Alumbra os astros e aproxima o céu. Até a lua, a casta e branca...
Soneto de Montevidéu
Rio de Janeiro , 1962
Não te rias de mim, que as minhas lágrimas São água para as flores que plantaste No meu ser infeliz, e isso lhe baste Para querer-te sempre mais e...
Soneto de Oxford
Rio de Janeiro , 1957
Oh, partir pela noite enluarada No puro anseio de chegar lá onde A minha doce e fugitiva amada Na madrugada, trêmula, se esconde... Oh, sentir palpitar em cada fronde O amor,...
Soneto de quarta-feira de cinzas
Rio de Janeiro , 1941
Por seres quem me foste, grave e pura Em tão doce surpresa conquistada Por seres uma branca criatura De uma brancura de manhã raiada Por seres de uma rara...
Soneto de separação
Inglaterra , 1938
De repente do riso fez-se o pranto Silencioso e branco como a bruma E das bocas unidas fez-se a espuma E das mãos espalmadas fez-se o espanto. De repente da...
Soneto de um casamento
Rio de Janeiro , 2004
Na sala de luz lívida, sorriam Sombras imóveis; e outras lacrimosas Perseguiam lembranças dolorosas Na exaltação das flores que morriam. ...
Soneto de um domingo
Rio de Janeiro , 1957
Em casa há muita paz por um domingo assim. A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai... Esqueço de quem sou para sentir-me pai E ouço na sala, num silêncio ermo e sem...
Soneto de véspera
Oxford , 1939
Quando chegares e eu te vir chorando De tanto te esperar, que te direi? E da angústia de amar-te, te esperando Reencontrada, como te amarei? Que beijo teu de...
Soneto do amigo
Rio de Janeiro , 2004
Los Angeles Enfim, depois de tanto erro passado Tantas retaliações, tanto perigo Eis que ressurge noutro o velho amigo Nunca perdido, sempre reencontrado. ...
Soneto do amor como um rio
Montevidéu , 1962
Este infinito amor de um ano faz Que é maior do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo Eu já não cria que existisse mais. ...
Soneto do amor demais
Rio de Janeiro , 2004
Não, já não amo mais os passarinhos A quem, triste, contei tanto segredo Nem amo as flores despertadas cedo Pelo vento orvalhado dos caminhos. ...
Soneto do amor total
Rio de Janeiro , 1951
Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim,...
Soneto do breve momento
Rio de Janeiro , 2004
Belo Horizonte Plumas de ninhos em teus seios; urnas De rubras flores em teu ventre; flores Por todo corpo teu, terso das dores De primaveras loucas e noturnas. ...
Soneto do gato morto
Rio de Janeiro , 1957
Um gato vivo é qualquer coisa linda Nada existe com mais serenidade Mesmo parado ele caminha ainda As selvas sinuosas da saudade De ter sido feroz. À sua vinda Altas correntes...