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Soneto do amor demais

Rio de Janeiro , 2004

Não, já não amo mais os passarinhos 
A quem, triste, contei tanto segredo 
Nem amo as flores despertadas cedo 
Pelo vento orvalhado dos caminhos. 

Não amo mais as sombras do arvoredo 
Em seu suave entardecer de ninhos 
Nem amo receber outros carinhos 
E até de amar a vida tenho medo. 

Tenho medo de amar o que de cada 
Coisa que der resulte empobrecida 
A paixão do que se der à coisa amada 

E que não sofra por desmerecida 
Aquela que me deu tudo na vida 
E que de mim só quer amor - mais nada.