O namorado das ruas
Rio de Janeiro , 2004
Eu sou doido por Alice Mas confesso que a meiguice De Conceição me alucina. Lucília não me dá folga Porém que amor é...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...
O olhar para trás
Rio de Janeiro , 1935
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha...
O operário em construção
Rio de Janeiro , 1959
E o Diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe num momento de tempo todos os reinos do mundo. E disse-lhe o Diabo: - Dar-te-ei todo este poder e a sua glória, porque a mim me foi...
O outro
Rio de Janeiro , 1935
Às vezes, na hora trêmula em que os espaços desmancham-se em neblina E a gaze da noite se esgarça suspensa na bruma dormente Eu sinto sobre o meu ser uma presença...
O pato
Rio de Janeiro , 1970
Lá vem o pato Pata aqui, pata acolá Lá vem o pato Para ver o que é que há. O pato pateta Pintou o caneco Surrou a galinha Bateu no marreco Pulou do...
O peixe espada
Rio de Janeiro , 1970
Quando um peixe-espada Vê outro peixe-espada Pensam que eles brigam? Qual brigam qual nada! Poderão no máximo Brincar de duelo Mas...
O peru
Rio de Janeiro , 1970
Glu! Glu! Glu! Abram alas pro peru! O peru foi a passeio Pensando que era pavão Tico-tico riu-se tanto Que morreu de congestão. O peru dança de roda Numa roda de...
O pinguim
Rio de Janeiro , 1970
Bom dia, pinguim Onde vai assim Com ar apressado? Eu não sou malvado Não fique assustado Com medo de mim. Eu só gostaria De dar um tapinha No seu chapéu-jaca...
O poeta
Rio de Janeiro , 1933
A vida do poeta tem um ritmo diferente É um contínuo de dor angustiante. O poeta é o destinado do sofrimento Do sofrimento que lhe clareia a visão de beleza E a sua...
O poeta
Rio de Janeiro , 1962
Olhos que recolhem Só tristeza e adeus Para que outros olhem Com amor os seus. Mãos que só despejam Silêncios e dúvidas ...
O poeta aprendiz
Rio de Janeiro , 1962
Ele era um menino Valente e caprino Um pequeno infante Sadio e grimpante. Anos tinha dez E asinhas nos pés Com chumbo e bodoque Era plic e...
O poeta e a lua
rio de Janeiro , 1954
Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela rua Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua. A lua volta de flanco Eriçada de luxúria O poeta, aloucado e...
O poeta e a rosa
Rio de Janeiro , 1962
( E com direito a passarinho) Ao ver uma rosa branca O poeta disse: Que linda! Cantarei sua beleza Como ninguém nunca ainda! Qual não é...
O poeta em trânsito ou o filho pródigo
Rio de Janeiro , 2004
Acordarei as aves que, noturnas Por medo à treva calam-se nos galhos E aguardam insones o romper da aurora. Despertarei os bêbados nos pórticos Os...