O poeta Hart Crane suicida-se no mar
Rio de Janeiro , 1953
Quando mergulhaste na água Não sentiste como é fria Como é fria assim na noite Como é fria, como é fria? E ao teu medo que por...
O poeta na madrugada
Rio de Janeiro , 1933
Quando o poeta chegou à cidade A aurora vinha clareando o céu distante E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios. Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora...
O prisioneiro
Rio de Janeiro , 1935
Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta E fiquei sozinho e parado, longe de tudo. Nenhuma percepção — talvez uma leve sensação de frio no vento E uma...
O relógio
Rio de Janeiro , 1970
Passa, tempo, tic-tac Tic-tac, passa, hora Chega logo, tic-tac Tic-tac, e vai-te embora Passa, tempo Bem depressa Não atrasa Não demora Que já estou Muito cansado...
O rio
Rio de Janeiro , 1954
Uma gota de chuva A mais, e o ventre grávido Estremeceu, da terra. Através de antigos Sedimentos, rochas Ignoradas, ouro Carvão, ferro e mármore Um fio cristalino...
O riso
Rio de Janeiro , 1946
Aquele riso foi o canto célebre Da primeira estrela, em vão. Milagre de primavera intacta No sepulcro de neve Rosa aberta ao vento, breve Muito...
O sacrifício do vinho
Rio de Janeiro , 2004
Paris Contra o crepúsculo O vinho assoma, exulta, sobreleva Muda o cristal da tarde em rubra pompa Ganha som, ganha sangue, ganha seios Contra o crepúsculo...
O tempo nos parques
Rio de Janeiro , 2004
O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível. Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira Na grande pedra intacta, o...
O tempo nos parques
rio de Janeiro , 1954
O tempo nos parques é íntimo, inadiável, imparticipante, imarcescível. Medita nas altas frondes, na última palma da palmeira Na grande pedra intacta, o tempo...
O terceiro filho
Rio de Janeiro , 1933
Em busca dos irmãos que tinham ido Eu parti com pouco ouro e muita bênção Sob o olhar dos pais aflitos. Eu encontrei os meus irmãos Que a ira do Senhor...
O único caminho
Rio de Janeiro , 1933
No tempo em que o Espírito habitava a terra E em que os homens sentiam na carne a beleza da arte Eu ainda não tinha aparecido. Naquele tempo as pombas brincavam com as crianças...
O vale do paraíso
Rio de Janeiro , 1933
Quando vier de novo o céu de maio largando estrelas Eu irei, lá onde os pinheiros recendem nas manhãs úmidas Lá onde a aragem não desdenha a pequenina flor...
O verbo no infinito
Rio de Janeiro , 1962
Ser criado, gerar-se, transformar O amor em carne e a carne em amor; nascer Respirar, e chorar, e adormecer E se nutrir para poder chorar Para poder nutrir-se; e...
Ode a maio
Rio de Janeiro , 2004
Maio dançarino! abre tuas asas diáfanas Sobre as corolas nascituras; limpa os céus De azul; aclara e alegra as águas do mundo Jovem, doce Maio! enxota...
Olhe aqui, Mr. Buster *
Rio de Janeiro , 1962
* Este poema é dedicado a um americano simpático, extrovertido e podre de rico, em cuja casa estive poucos dias antes de minha volta ao Brasil, depois de cinco anos de Los Angeles, EUA. Mr....