Soneto de devoção
Rio de Janeiro , 1938
Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia...
Soneto de fidelidade
são Paulo , 1946
De tudo, ao meu amor serei atento Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento. Quero vivê-lo em cada vão momento...
Soneto de intimidade
Campo Belo , 1937
Nas tardes de fazenda há muito azul demais. Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora Mastigando um capim, o peito nu de fora No pijama irreal de há três anos atrás....
Soneto de Oxford
Rio de Janeiro , 1957
Oh, partir pela noite enluarada No puro anseio de chegar lá onde A minha doce e fugitiva amada Na madrugada, trêmula, se esconde... Oh, sentir palpitar em cada fronde O amor,...
Soneto de quarta-feira de cinzas
Rio de Janeiro , 1941
Por seres quem me foste, grave e pura Em tão doce surpresa conquistada Por seres uma branca criatura De uma brancura de manhã raiada Por seres de uma rara...
Soneto de um domingo
Rio de Janeiro , 1957
Em casa há muita paz por um domingo assim. A mulher dorme, os filhos brincam, a chuva cai... Esqueço de quem sou para sentir-me pai E ouço na sala, num silêncio ermo e sem...
Soneto do amor como um rio
Montevidéu , 1962
Este infinito amor de um ano faz Que é maior do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo Eu já não cria que existisse mais. ...
Soneto do amor demais
Rio de Janeiro , 2004
Não, já não amo mais os passarinhos A quem, triste, contei tanto segredo Nem amo as flores despertadas cedo Pelo vento orvalhado dos caminhos. ...
Soneto do amor total
Rio de Janeiro , 1951
Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim,...
Soneto do maior amor
Oxford , 1938
Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E...
Soneto do só
rio de Janeiro , 1954
(Parábola de Malte Laurids Brigge) Depois foi só. O amor era mais nada Sentiu-se pobre e triste como Jó Um cão veio lamber-lhe a mão na estrada Espantado,...
Soneto na morte de José Arthur da Frota Moreira
Rio de Janeiro , 2004
Cantamos ao nascer o mesmo canto De alegria, de súplica e de horror E a mulher nos surgiu no mesmo encanto Na mesma dúvida e na mesma dor. Criamos toda a...
Sursum
Rio de Janeiro , 1935
Eu avanço no espaço as mãos crispadas, essas mãos juntas — lembras-te? — que o destino das coisas separou E sinto vir se desenrolando no ar o grande manto...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Tatiografia
Rio de Janeiro , 2004
Em Tati tem Taiti Ilha do amor e do adeus Tem avatá, Havaí! Taubaté, Aloha He... Tem medicina com mascate Pão de açúcar...