voltarMovie

O que vai por aí

Última Hora , 30 de Julho de1951

Farei hoje uma pequena pausa para meditação, com relação às crônicas que vinha dando sobre Alberto Cavalcanti e o Instituto Nacional de Cinema, a fim de trazer o apanhado semanal sobre os cartazes em exibição, mas voltarei logo ao assunto, pois acho da maior importância dar ao público uma noção nítida do que é o INC, ou melhor, do que será, se o Congresso compreender a necessidade e urgência da entidade, e se for ela orientada dentro dos princípios em que a planejaram Cavalcanti e sua equipe. 

Eu me lembro de ter aconselhado instantemente todo mundo a ir ver As minas do rei Salomão. Não é grande cinema, tem duas ou três bobagens, mas é divertido como um papo com Di Cavalcanti. As lagostas nas portas dos Metros continuam firmes, e é bom saber que, por uma ou duas semanas, o público carioca poderá en avoir pour son argent, como se diz em Leblon Sur-Mer. 

Dos demais celulóides em exibição, o meu conselho vai, naturalmente, para a nova fita de Mark Robson, Almas em revolta (Edge of Dawn) . Robson, apesar de ter caído um pouco na sofisticação psico-bruta que constitui o novo prato forte de Hollywood, é um bom diretor e Farley Granger, malgrado as boquinhas que faz, é um ator que promete. O negócio todo deve ter um grande ranço místico. 

Prelúdio à fama deve ser razoavelmente chato. Trata-se, pelo que diz a publicidade, da história de um menino prodígio - eu, como acho meninos prodígios o PHYN, prefiro aconselhar o fã incauto a ir ver, em vez, Olhando a noite de frente, que é pelo menos um cowboy de classe, com, Errol Flynn - que bem dirigido é um ator sempre agradável - e Patrícia Wymore, que até que é boa. 

Paixão de toureiro, produzido por John Wayne, reinstaura a tauromaquia cinematográfica de Hollywood. Decerto haverá gente da minha idade que ainda se lembra maravilhada de Rudolph Valentino, metendo as garras nas costas fofinhas de Nita Naldi, de modo a formar um lindo capitoné. John Ford, ao que se diz, colaborou no corte e coordenação da película - o que, se for verdade, é o caso de se dizer, alvíssaras. 

Há também uma fita nacional, Hóspede de uma noite. Não quero arriscar qualquer prognóstico. A direção é de Hugo Lombardi, e nunca vi nada pelo dito. Dito o que, passo a contar uma razoável, que aconteceu com pessoa da minha família. De conversa com sua empregada, contou-lhe esta que tinha visto o Hamlet - só que ela pronunciou "Amilete". Tratava-se, não é preciso dizer, da cozinheira da casa.

- lh! A senhora nem imagina que fita triste... Morre gente o tempo todo... 

E acrescentou: 

- Amilete? Só se for de defunto...