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O mundo é um teatro

A Manhã , 30 de Novembro de1941

O mundo é um teatro, no Metro. Imagina, leitor, escadas em profusão, escadas. Nessas escadas, subindo e descendo, imagina girls, americanas pernaltas, enfeitadas do que a própria natureza madrasta não quis criar, plumagens, balões de borracha, folhagens tropicais, pompons, almofadas, baiacus, crescentes, minguantes, símbolos totêmicos sobre falsos tabus, vidrilhos, laçarotes, véus, caixas de fósforos, pontas de cigarro, cascas de queijo, não importa o quê. Mascara todas essas fisionomias de expressões idiotas, de sorrisos de circunstância em bocas mimosas à custa de muito esforço. Deixa-te levar assim, nesta toada, irás, quem sabe, produzir um verso qualquer desaforado, que irá insultar o teu parceiro da esquerda, romântico da segunda geração - parnasiano leitor! Verás escadas de Jacó - ó raios! - por onde, lentas, subirão "sozinhas". Mas nada te dará nenhuma idéia, nem esse propositadamente desavergonhado trocadilho, do que é essa féerie, esse bolo piramidal onde se disputam o chantilly e o marshmallow em luta branca pelo apetite suburbano das massas tamoias. 

Fatalidade atroz que a mente esmaga! Gravatas e suspensórios de vidro, como vos compreendo agora! Dentaduras duplas que encontrastes o vosso cantor no meu amigo e poeta Carlos Drummond, como vos sinto! Hollywood, em que conta vos tenho! Ó Eugenia, e não Eugênia, capaz de criar uma adolescência torácica como Judy Garland, e transformar Kiesler em Lamarr e Lamarr em batráquio! Ó produtora de um James Stewart, caniço mal pensado de uma noite de verão! 

No entanto, se todo mundo tivesse o mesmo gosto, que seria da cor amarela? Lana Turner - um pêssego só num prato de frutas de cera - é pouco, é bem pouco para salvar uma refeição assim.