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O Festival de Cinema da Bienal Paulista

Última Hora , 27 de Dezembro de1951

De São Paulo - O Festival de Cinema da Bienal, que teve lugar recentemente, constituiu mais uma prova da capacidade ímpar de organização dentro do complexo brasileiro, dos intelectuais e do povo bandeirante. Organizado em torno do critério exclusivo dos filmes sobre arte, teve a mostra cinematográfica do maior certame artístico sul-americano de todos os tempos como juízes os escritores Almeida Salles, Serginho Milliet e Lourival Gomes Machado - o primeiro, crítico de cinema dos mais proveitosos; o segundo, crítico de arte cujo nome dispensa apresentações; e o terceiro, também crítico de arte, aquele a quem Cícilho Matarazzo deu a mão e pôs em hora à testa do Museu de Arte Moderna, e que vem, neste mister, realizando uma obra extremamente compreensiva de orientação geral e divulgação. 

O critério de julgamento dos filmes feito segundo a aplicação das artes ao cinema - sendo considerado também um grande prêmio de conjunto - me parece o único possível dentro da diversidade das películas apresentadas. A Itália levou a palma pela melhor qualidade do total dos filmes julgados (oito), sendo o resto da premiação distribuída da seguinte maneira: Alemanha, pela melhor fotografia de câmera, num filme sobre Barlach; prêmio de música, dado à partitura de um filme Von Paris, L'Affaire Manet, ao belga Henry Stork o prêmio de direção num filme sobre a pintura de Delvaux; ao francês André Chanson o prêmio de roteiro, no filme Coeur d'amour épris, sobre iluminuras medievais. O brasileiro Lima Barreto levou a melhor, no prêmio a filmes nacionais, com o seu conhecido Painel, sobre o mural de Tiradentes, de Cândido Portinari. 

O grande prêmio - explicou-me Lourival Gomes Machado - não foi distribuído. Prometeu-me também o diretor do Museu de Arte Moderna mandar, logo que possível, a programação completa do Festival de Cinema, de modo a que eu possa completar essa introdução com uma notícia mais pormenorizada das suas atividades. Acho importante fazê-lo, de vez que o filme sobre arte vem tomando cada dia maior incremento, e seria da maior oportunidade fazer a mostra correr pelo menos as capitais brasileiras mais importantes, com o auxílio e compreensão dos governos locais. 

De qualquer modo, o Museu de Arte Moderna e seu diretor estão de parabensíssimos. Trata-se de uma grande prova de operosidade e amor a arte.