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O comprador de fazendas

Última Hora , 28 de Agosto de1951

Adaptado livremente de um conto do saudoso Lobato, o novo filme da Maristela, O comprador de fazendas, vem comprovar a tese de que, a passo de cágado que seja, o cinema brasileiro está fazendo esforços reais no sentido de uma cinematografia. Vejam este som, por exemplo. Não é de primeiríssima, mas que progresso revela com relação ao que fazíamos anteriormente à formação das companhias paulistas de cinema. Apesar da dublagem, como de costume precária, o planejamento sonoro da película é realizado com bastante acuidade. A perspectiva sonora está, via de regra, em boa harmonia com a perspectiva visual dentro do enquadramento - e só isso é uma coisa que positivamente amolece um crítico, Até que enfim! 

Vejam também esta fotografia. É ou não é, tanto do ponto de vista da filmagem como do laboratório, digna de qualquer filme estrangeiro? Tanko é sabidamente um bom cinegrafista, e a prova aí está para quem quiser ver com um mínimo de boa vontade - essa que deveria ser exigida de todos com relação ao presente momento do cinema brasileiro. 

Para mim, o defeito maior do filme reside no roteiro, e em última instância, na direção de Alberto Pieralise, que não soube, ou não quis, incutir-lhe maior mobilidade cinematográfica. O filme por vezes se arrasta, meu Deus, se arrasta, enquanto Procópio e Morineau fazem os maiores para representar bem os papéis que lhes couberam. Pois a verdade é que as interpretações, se bem que cavadas, não são tampouco o melhor do filme. Procópio, bem como tipo, carrega consigo todos os vícios da velha escola do aparte, de que é um dos lídimos representantes no Brasil. Mesmo quando não aparteia, Procópio no fundo está em cena aparteando. Mme. Morineau é aquela coisa que nós sabemos, aquela boa vontade, aquela falta de bossa... 

O comprador de fazendas não é um bom filme brasileiro. Bastante razoável, o que enche de esperanças o nosso peito varonil. Eu acho que o papel é ir ver, prestigiando assim a produção nacional. O cinema brasileiro precisa de todos os créditos possíveis, e o crédito do cinema brasileiro, é o povo, o apoio popular. Sem isso, não se poderá fazer nada.