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O brotinho e as respeitosas

Última Hora , 7 de Março de1952

Colette é uma escritora a quem se pode negar tudo menos isso. A velha escreve bem. Chéri e La Fin de Chéri, livros que eu li nos idos de 30, além de serem bons romances são livros com qualidades estilísticas notáveis. Mas o material com que Colette lida é qualquer coisa assim como o creme da porcaria. Há um cheiro de decadência, de faisandé em tudo o que ela faz, e seu Gigi, do qual a diretora Jacqueline Audry tirou esse O brotinho e as respeitosas (tradução que prima em cafajestismo gênero "teatro de revista") não foge à regra. 

O filme cai em cheio no tipo "literatura de lavatório". O Brotinho no caso, a jovem atriz francesa Danielle Delorme, esposa do ator Dan Gélin, que nos visitou recentemente. Danielle é feinha mas não desprovida de charme. Ela é, de qualquer modo, a melhor coisa desta fita demi-pútrida sobre prostitutas aposentadas e a preparação lenta e meticulosa de uma menina de 16 anos que a família destina a essa nobre profissão. 

Mlle. Delorme sai-se do seu papel a contento, embora se veja que ela aparenta no filme, seus pulinhos são por vezes desnecessários. O brotinho e as respeitosas [traz] o décor e a indumentária fin-de-siècle, mas um modo um tanto relaxado. Bons mesmo são certos interiores art nouveau, como a casa da avó de Gigi, uma verdadeira delícia de arranjo doméstico da época. 

O brotinho e as respeitosas não vale nada, em suma. Ao sair do Art Palácio, um menino de Copacabana dizia ao outro: "Só mesmo os franceses podem fazer um filme assim..." Nossos amigos franceses, que importam filmes, deviam zelar mais pela reputação da belle France...