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Núpcias reais

Última Hora , 18 de Julho de1951

Jane Powell é uma verdadeira compota de goiaba. Mas nem mesmo dada de colher por Fred Astaire neste novo musical da Metro, Núpcias reais, é ela facilmente digerível. Esta menininha cem por cento um produto de Hollywood, lustrosa como uma maçã e enjoativa como creme chantilly, não constitui das melhores sobremesas para um gourmet de cinema. O próprio Astaire, de resto, não está nos seus melhores dias, dançando rotinas abusadíssimas, fruto da fundamental falta de critério do estúdio responsável pelo filme. A imaginação dos coreógrafos fazem-no desta vez bailar de cabeça para baixo, no teto e nas paredes do seu apartamento em Londres, que apesar dos pesares e do tecnicolor, ainda é a melhor personagem deste abacaxi. 

Peter Lawford, com o seu penteado de asa de pombo ao qual não falta um coup de soleil e que se distingue pela maior costela em sentido horizontal que me foi dado ver na vida, passeia a sua cara alvar ao lado do fácies não menos alvar da nossa querida compotinha de goiaba. Tudo, enfim, me induziria a dizer uma palavra menos respeitável se eu não soubesse que há senhoras que são assíduas leitoras deste Vespertino. 

Esta salada de beterraba possui também a sua batata cozida, na pessoa da mui digna odonto-óssea, maxilo-clavicular Sarah Churchill, que faz piruetas eventuais com a graça de um dromedário. Astaire, pouco à vontade, desenvolve o seu fabuloso ritmo em bailados pouquíssimo notáveis, que culminam num à moda de Haiti USA no qual aparecem ritmos falsamente afro-cubanos, e pseudamente afro-disíacos, inclusive uns arremedos de samba. Astaire, como bem observou uma amiga minha, esta um perfeito sorvete de morango e baunilha nessa fantasia colorida que nada fica a dever ao pior Walt Disney. 

A fita é dirigida por um cidadão de nome Stanley Donen, cujo maior título de glória é ser noivo deste chá de erva cidreira ambulante que se chama Elizabeth Taylor. 

Les beaux esprits se rencontrent. E tenho dito.