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Na noite do crime eu não estava lá

Última Hora , 16 de Junho de1951

A última imagem que tive de Ann Sheridan foi bem melhor que a de outros, quando a vi, não mais em pessoa mas na tela, numa joça que estão levando no Odeon e que se chama Na noite do crime, direção de não sei quem lá. Já esqueci. Na verdade já esqueci até do próprio filme, e não há crônica alguma a escrever. Mas, em todo caso, em lembrança dessa noite em sua casa de Hollywood, quando fui vê-la com Carmen Miranda, vou espremer a Remington para ver se daí sai qualquer coisa sobre essa completa droga. 

Em primeiro lugar fiquei desapontado de não sentir o perfume de Ann Sheridan, que nessa noite de que falei era divino. Mas qual! Tive em vez, sono e pulgas, e para falar a verdade confesso que dei uma cochilada no final, quando a estrela fica andando de montanha-russa, a chorar pelo seu bem-amado a quem querem matar embaixo. Acordei assim com uns gritos e umas gargalhadas nos meus ouvidos, e vi a tela toda se movimentar com Ann Sheridan no seu carrinho descendo e subindo. É o tipo de cena em que o diretor pensa que "dirigiu" à beça. Existe, Ann Sheridan andando de montanha-russa já bem adiantada na casa dos trinta? 

O que é Na noite do crime? Nada, absolutamente nada. Nem os exteriores, que mostram essa linda cidade que é São Francisco - a cidade mais agradável dos Estados Unidos - conseguem interessar, de um ponto de vista turístico. Aliás, Ann Sheridan bem que faz seu turismozinho com um dos heróis, guiada pela mão de cego do diretor. Que digo! Mão de cego é uma coisa sensível como o diabo. Uma verdadeira pata de elefante, se me permitem a má palavra.