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Na boca do lobo

Última Hora , 22 de Novembro de1951

Desde que Bing Crosby e Ingrid Bergman, na pele de um padre e uma freira, andaram ensinando umas crianças pobres a manejar aquele cajado de baseball chamado bat e a jogar box, nunca mais apareceu uma freira ou um padre cinematográficos que, com o rosto transfigurado de sadio contentamento espiritual, não lhes seguissem as pegadas, transmitindo à petizada os valores esportivos cem por cento americanos. O filme em que Crosby e Bergman o faziam era, se não me engano, uma xaropada chamada Os sinos de Santa Maria - e a história se repete neste Na boca do lobo, com Allan Ladd, cada vez mais sem queixo e cada vez mais sem expressão, encarnando um agente policial do correio americano designado para descobrir o assassinato de um outro agente, no estado de Indiana. Acontece que a única testemunha do crime é uma freirinha bastante à Deborah Kerr, com um rosto jovem, bonito e iluminado de fé e ingenuidade. Da relação resultante entre o agente e a freira nasce, da parte dela, uma grande piedade cristã pelo "tira" egoísta e frio e da parte dele, um laivo de humanidade, que faz com que ele se preocupe com a segurança da serva do Senhor. 

Em meio a uma fotografia pobre, ainda mais paupérrima pela aparelhagem do Ritz, Allan Ladd, com um leve sorriso no canto da boca, descobre a quadrilha que matara seu colega, nela ingressa para despistar, descobre além disso que a gang planeja um grande roubo de dinheiro a ser transportado pelo Correio local, e evita tudo com o maior desassombro e bastante... como direi... capacidade de sair ileso de situações irresolúveis. A freirinha também não deixa de participar dessa... capacidade, saindo sã e salva de dois sérios atentados contra a sua santa vidoca. Allan Ladd tem oportunidades para dar possantes murros na cara de vários gangsters, embora numa das últimas brigas tivessem usado um double, isto é, alguém para apanhar por ele, um pouco perto da câmara demais. 

A fita tem tudo e não tem nada. Já foi vista 380 vezes, com o próprio Allan Ladd ou senão com ele, com outro ator americano qualquer. Robert Mitchum, Richard Basehart, Dick Powell, Robert Widmark, centenas de outros - é só escolher. A direção de Lewis Allen é precaríssima, e só Jan Sterling, numa das pontas em que se vem estoriando, consegue interessar, pois é uma atrizinha não sem qualidades.