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Museu de cinema

A Vanguarda , 29 de Agosto de1953

Uma das grandes iniciativas ligadas ao 1.º Festival Internacional de Cinema do Brasil, a realizar-se em fevereiro do ano que vem, em São Paulo, é a vinda da Retrospectiva Mundial de Cinema, através do acordo efetuado em Paris pelo crítico Almeida Salles e Paulo Emílio de Sales Gomes, com Henri Langlois, diretor da Cinemateca Francesa. 

Já em 1952, quando de minha estada na Europa, havia eu começado a conversar com Paulo Emílio sobre a questão das facilidades aduaneiras para a entrada no Brasil de filmes de cinematecas estrangeiras, capaz de alimentar os nossos jovens cineclubes, muitos dos quais morrendo à míngua de celulóide. Residente em Paris, há sete anos, o crítico paulista conseguiu, com seu devotamento ao bom cinema, sua cultura e o seu espírito público, ser eleito para a vice-presidência da Fedération Internationale des Archives du Film, entidade que regula a vida e as atividades internacionais das cinematecas existentes, e à qual é filiada a Cinemateca do Museu de Arte Moderna, de São Paulo. Graças a essa posição e à estima em que é tido por todos os dirigentes internacionais de filmotecas, Paulo Emílio obteve um regímen especial de facilidades para o Brasil. A boa disposição de nos mandar clássicos de arte é completa, e a coisa só não é feita porque há no Brasil uma lei da Alfândega que onera a entrada desse material de taxas aduaneiras proibitivas para as pequenas e incipientes entidades que se propõem a recebê-los e desenvolvê-los, ou seja, os cineclubes, que já existem em razoável quantidade em todo o país. 

A vinda da Retrospectiva Mundial para o Brasil, devida em primeiro lugar ao bom trabalho de Paulo Emílio de Sales Gomes e, em segundo, às ótimas articulações feitas na Europa pelo crítico Almeida Salles, obriga nossas autoridades a beneficiarem tais filmes com isenções especiais - o que, a meu ver, deveria constituir material de uma lei permanente. Uma tal lei virá, estou certo, quando essas autoridades conseguirem ver com seus próprios olhos a excelência do Museu de Cinema da Cinemateca Francesa, a esplêndida qualidade dos seus arquivos de filmes, a extraordinária boa vontade dos seus dirigentes e a afluência que as exibições em São Paulo certamente terão. Pois dentro de todo o Festival, esta é a meu ver a iniciativa mais importante do ponto de vista cultural: é facilitar o seu acesso ao maior número de brasileiros. É coisa que depende apenas do legislador brasileiro, com vistas à formação de núcleos estudiosos, fonte certa do futuro homem de cinema.