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Máscara de um assassino

Última Hora , 1 de Novembro de1951

Eu confesso que fui ver Máscara de um assassino com muitas esperanças. As notícias que corriam de que Eric von Stroheim teria metido a sua colher na panela, davam a essas esperanças grandes asas. Stroheim é reconhecidamente um dos gigantes da cinematografia, e só quem viu Ouro e maldição (o seu famoso Greed) pode saber do que estou falando. Mestre do Naturalismo cinematográfico, mais que do Realismo, Stroheim foi um poderoso diretor - um artista nu e cru, cruel se quiserem, mas com um impressionante sentido dinâmico da vida. Precursor legítimo, conseguiu ele em seus filmes - e até hoje ninguém sabe como - uma extraordinária profundidade nas imagens, que antecedem o pan-focus, que, como é sabido, torna nítidos todos os da imagem, desde que esta seja tomada de uma determinada distância. Isso veio acabar com a fluidificação da imagem em background, tão comum em cinema. 

Não sei se Stroheim teve realmente que ver com Máscara de um assassino. Eu, pessoalmente, estou inclinado a crer que ele tenha tido, diante de um certo gosto vieux jeu, passadista, que se nota em muitas cenas, e sobretudo na caracterização de Maria Montez na vamp do filme. Mas se tal aconteceu, azar dele. O filme, que inicia bem, vai caindo, caindo até o final. Trata-se de uma produção fraca, e o próprio melodrama que quer explorar, não se mantém como tal; atores, com exceção da fabulosa Arletty, e do próprio Stroheim - que não importa o que faça o faz sempre com grande bossa - estão todos ruins, inclusive um bom ator como Pierre Brasseur, que parece estar trabalhando com a pior das más vontades, e cujo tipo não convenceu. 

Há cenas no filme que tocam o limite do ridículo - como aquela em que é experimentado o plano inclinado sobre o qual deverá deslizar o automóvel antes do duplo salto mortal. E a produção toda se perde em cacoetes passadistas, em seqüências sem unidade íntima, resultando tudo num celulóide que acaba deixando o espectador inconfortável. 

A falecida Maria Montez, tadinha, sempre péssima. E a muito viva Arletty, sempre ótima, apesar da velhice que se aproxima - uma linda mulher que deixa sempre a gente intrigado, a pensar no que será que ela está pensando...