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Luzes da Ribalta

A Vanguarda , 1 de Agosto de1953

No meio de tanta luta, tanto duro a dar, tanta coisa a tratar ao mesmo tempo, tanto prazo a honrar, tanto festival a fazer, tanto poema a não deixar morrer; no meio de tantos golpes, contragolpes, Jânios, fangos, tangelemangos; no meio de tantos entretantos, a espada e a parede, o dever e o tédio, o selo e a camélia; sob o signo de tanto câncer, em contato com tantos capricórnios, debaixo de tantas lantejoulas, golondrinas, laparatomias; perseguido pela face triste de tantos párias, pelo dedo em riste de tantas parás, pela atenção desvelada de tantos parentes; colocado entre parênteses, oculto por elipse, coberto de anacolutos, sob a pressão de tantas minutas e tão poucos minutos, com o coração transverberado de não obstantes, de sem embargos, de sobremaneiras; cansado de concretos e abstratos, transubstanciações e metempsicoses, delações e carismas; obrigado aos é precioso, aos meu-caro, aos por-favor, aos Oh-porquem-sois; empurrado para os canais competentes, os compartimentos estanques, as soluções de continuidade; psicado pela questão do encontro e do desencontro, do entendido e do malentendido, de lucro e de desdouro; e além disso, de natural louco, violento-delicado, envolto em música e mulher, capaz de mais fina finura, de mais firme finura, da mais alta finura; possuído do conceito deve-haver que mais valia não houvera; e depois sendo obrigado a não se deixar levar, a estar preparado, a resolver, a não parecer que, e ao mesmo tempo a parecer que, e depois ainda tendo que enfrentar o problema do prurido e da válvula, e de comentário... - ah, resta... 

...Resta a possibilidade, em breve, de ir ver Limelight e dar diariamente a minha chorada de 2 às 4, esquecido por duas ou três semanas de que existe a letra M, a letra P e a letra V, e de que o mundo marcha inflexivelmente para a constelação de Órion.