Rancho das flores
Rio de Janeiro , 2004
Entre as prendas com que a natureza Alegrou este mundo onde há tanta tristeza A beleza das flores realça em primeiro lugar É um milagre De aroma...
Receita de mulher
Rio de Janeiro , 1959
As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute...
Redondilhas para Tati
Rio de Janeiro , 2004
Sem ti vivo triste e só (Bastasse o que já sofri... ) Sem ti sou ermo, sou pó Sou tristeza por aí... Sem ti... ah, dizer-te a ti! Mas se...
Retrato de Maria Lúcia
Montevidéu , 1962
Tu vens de longe; a pedra Suavizou seu tempo Para entalhar-te o rosto Ensimesmado e lento Teu rosto como um templo Voltado para o oriente Remoto como o...
Retrato, à sua maneira
rio de Janeiro , 1954
Magro entre pedras Calcárias possível Pergaminho para A anotação gráfica O grafito Grave Nariz poema o Fêmur fraterno Radiografável a ...
Romanza
Rio de Janeiro , 1933
Branca mulher de olhos claros De olhar branco e luminoso Que tinhas luz nas pupilas E luz nos cabelos louros Onde levou-te o destino Que te afastou para longe Da minha vista sem vida Da...
Rosário
Rio de Janeiro , 1946
E eu que era um menino puro Não fui perder minha infância No mangue daquela carne! Dizia que era morena Sabendo que era mulata Dizia que era...
Sacrifício
Rio de Janeiro , 1933
Num instante foi o sangue, o horror, a morte na lama do chão. — Segue, disse a voz. E o homem seguiu, impávido Pisando o sangue do chão, vibrando, na luta. No ódio...
Sacrifício da Aurora
rio de Janeiro , 1954
Um dia a aurora chegou-se Ao meu quarto de marfim E com seu riso mais doce Deitou-se junto de mim Beijei-lhe a boca orvalhada E a carne tímida e exangue A carne não tinha sangue...
Salta como um fauno puro ou um sapo...
Rio de Janeiro , 2004
Salta como um fauno puro ou um sapo miraculoso por entre os raios do sol frenético Distribuindo alegres e bem-soantes palavrões para protestantes e católicos Urina...
Santa Maria tem terras...
Rio de Janeiro , 2004
Santa Maria tem terras Como outras iguais não há Tem pastagens, tem florestas Onde canta o sabiá Deus permita que, voltando Muito mais tempo...
Senhor, eu não sou digno
Rio de Janeiro , 1933
Para que cantarei nas montanhas sem eco As minhas louvações? A tristeza de não poder atingir o infinito Embargará de lágrimas a minha voz. Para que entoarei o...
Solilóquio
Rio de Janeiro , 1938
Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros E amargue em meu coração a descrença. Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! — algum dia,...
Sombra e luz
Rio de Janeiro , 1946
I Dança Deus! Sacudindo o mundo Desfigurando estrelas Afogando o mundo Na cinza dos céus Sapateia, Deus Negro na noite Semeando...
Sonata do amor perdido
Rio de Janeiro , 1938
Lamento nº 1 Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi...