Soneto do amor como um rio
Montevidéu , 1962
Este infinito amor de um ano faz Que é maior do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo Eu já não cria que existisse mais. ...
Soneto do gato morto
Rio de Janeiro , 1957
Um gato vivo é qualquer coisa linda Nada existe com mais serenidade Mesmo parado ele caminha ainda As selvas sinuosas da saudade De ter sido feroz. À sua vinda Altas correntes...
Soneto na morte de José Arthur da Frota Moreira
Rio de Janeiro , 2004
Cantamos ao nascer o mesmo canto De alegria, de súplica e de horror E a mulher nos surgiu no mesmo encanto Na mesma dúvida e na mesma dor. Criamos toda a...
Soneto sentimental à cidade de São Paulo
Rio de Janeiro , 2004
Ó cidade tão lírica e tão fria! Mercenária, que importa - basta! - importa Que à noite, quando te repousas morta Lenta e cruel te envolve...
Soneto simples
Rio de Janeiro , 1938
Chegara enfim o mesmo que partira: a porta aberta e o coração voando ao encontro dos olhos e das mãos. Velhos pássaros, velhas criaturas, almas cinzentas plácidas...
Sonoridade
Rio de Janeiro , 1933
Meus ouvidos pousam na noite dormente como aves calmas Há iluminações no céu se desfazendo... O grilo é um coração pulsando no sono do espaço...
Sursum
Rio de Janeiro , 1935
Eu avanço no espaço as mãos crispadas, essas mãos juntas — lembras-te? — que o destino das coisas separou E sinto vir se desenrolando no ar o grande manto...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Ternura
Rio de Janeiro , 1938
Eu te peço perdão por te amar de repente Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos Das horas que passei à sombra dos teus gestos Bebendo em tua boca...
Teu nome
Montevidéu , 1962
Teu nome, Maria Lúcia Tem qualquer coisa que afaga Como uma lua macia Brilhando à flor de uma vaga. Parece um mar que marulha De manso sobre uma...
Transfiguração da montanha
Rio de Janeiro , 2004
E uma vez Ele subiu com os apóstolos numa montanha alta E lá se transfigurou diante deles. Uma auréola de luz rodeava-lhe a cabeça Ele tinha nos olhos o...
Três respostas em face de Deus
Rio de Janeiro , 1935
Familles, je vous hais! foyers clos; portes refermées; possessions jalouses du bonheur. A. Gide C'est l'ami ni ardent ni faible. L'ami. ...
Tríptico na morte de Sergei Mikhailovitch Eisenstein
Rio de Janeiro , 1957
I Camarada Eisenstein, muito obrigado Pelos dilemas, e pela montagem De Canal de Ferghama, irrealizado E outras afirmações. Tu foste a imagem Em movimento. Agora,...
Uiaras, na montanha, ao sol,...
Rio de Janeiro , 2004
Uiaras, na montanha, ao sol, sob a cascata Rutilante, movendo as nádegas de prata Na farta esmeralda do limo, em gelatina Nuas, verdes, nas grandes pedras, na água...
Um beijo
Petrópolis , 1962
Um minuto o nosso beijo Um só minuto; no entanto Nesse minuto de beijo Quantos segundos de espanto! Quantas mães e esposas loucas Pelo drama de um...