O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O infinito de Leopardi
Rio de Janeiro , 1962
Sempre cara me foi esta colina Erma, e esta sebe, que de tanta parte Do último horizonte, o olhar exclui. Mas sentado a mirar, intermináveis Espaços...
O leão
Rio de Janeiro , 1970
(Inspirado em William Blake) Leão! Leão! Leão! Rugindo como o trovão Deu um pulo, e era uma vez Um cabritinho montês. Leão! Leão!...
O maestro Villa-Lobos fixa-se na eternidade
Rio de Janeiro , 2004
Na verdade, Mestre, não morreste. A morte apenas abriu para o teu vulto O seu nicho de treva, de modo a que melhor pudesses Brilhar em tua glória. Não...
O mágico
Rio de Janeiro , 1938
Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a...
O mais-que-perfeito
Rio de Janeiro , 1962
Ah, quem me dera ir-me Contigo agora Para um horizonte firme (Comum, embora...) Ah, quem me dera ir-me! Ah, quem me dera...
O mal de Nava
Rio de Janeiro , 2004
Meu Deus, que tédio Que me devora Não sei se fique Se vá me embora Morrer? Se morro Quem me dá vida? Chorar? Se choro ...
O marimbondo
Rio de Janeiro , 1970
Marimbondo furibundo Vai mordendo meio mundo Cuidado com o marimbondo Que esse bicho morde fundo! — Eta bicho danado! Marimbondô De chocolat Saia daqui Sem me morder...
O mergulhador
Rio de Janeiro , 1959
E il naufragar m'è dolce in questo mare Leopardi Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos No líquido luar tateiam a coisa a vir Assim, dentro...
O Morro do Castelo
Rio de Janeiro , 2004
(A lira que não escreveu Gonzaga) Numa qualquer madrugada De uma qualquer quarta-feira O homem de pouca fé Faz uma barba ligeira (Que coisa...
O mosquito
Rio de Janeiro , 1970
O mundo é tão esquisito: Tem mosquito. Por que, mosquito, por que Eu... e você? Você é o inseto Mais indiscreto Da Criação Tocando fino...
O namorado das ruas
Rio de Janeiro , 2004
Eu sou doido por Alice Mas confesso que a meiguice De Conceição me alucina. Lucília não me dá folga Porém que amor é...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...
O olhar para trás
Rio de Janeiro , 1935
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha...
O ônibus Greyhound atravessa o Novo México
Rio de Janeiro , 1962
Terra seca árvore seca E a bomba de gasolina Casa seca paiol seco E a bomba de gasolina Serpente seca na estrada E a bomba de gasolina Pássaro...