O eleito
Rio de Janeiro , 2004
Itatiaia Quando eu era menor na grande moradia De minha avó materna e de meu pobre avô Muitas vezes senti, como alguém que sonhou Pesar sobre meu corpo o...
O escravo
Rio de Janeiro , 1935
J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans. Baudelaire A grande Morte que cada um traz em si. Rilke Quando a tarde veio o vento veio e...
O espectro da rosa
Montevidéu , 1962
Juntem-se vermelho Rosa, azul e verde E quebrem o espelho Roxo para ver-te Amada anadiômena Saindo do banho Qual rosa morena Mais...
O falso mendigo
Rio de Janeiro , 1938
Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda Quero fazer uma poesia. Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado E me trazer muito devagarinho....
O filho do homem
Rio de Janeiro , 1954
O mundo parou A estrela morreu No fundo da treva O infante nasceu. Nasceu num estábulo Pequeno e singelo Com boi e charrua Com foice e martelo. Ao lado do infante O homem e...
O girassol
Rio de Janeiro , 1970
Sempre que o sol Pinta de anil Todo o céu O girassol Fica um gentil Carrossel. O girassol é o carrossel das abelhas. Pretas e vermelhas Ali ficam elas Brincando,...
O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O infinito de Leopardi
Rio de Janeiro , 1962
Sempre cara me foi esta colina Erma, e esta sebe, que de tanta parte Do último horizonte, o olhar exclui. Mas sentado a mirar, intermináveis Espaços...
O mágico
Rio de Janeiro , 1938
Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a...
O mais-que-perfeito
Rio de Janeiro , 1962
Ah, quem me dera ir-me Contigo agora Para um horizonte firme (Comum, embora...) Ah, quem me dera ir-me! Ah, quem me dera...
O marimbondo
Rio de Janeiro , 1970
Marimbondo furibundo Vai mordendo meio mundo Cuidado com o marimbondo Que esse bicho morde fundo! — Eta bicho danado! Marimbondô De chocolat Saia daqui Sem me morder...
O mergulhador
Rio de Janeiro , 1959
E il naufragar m'è dolce in questo mare Leopardi Como, dentro do mar, libérrimos, os polvos No líquido luar tateiam a coisa a vir Assim, dentro...
O Morro do Castelo
Rio de Janeiro , 2004
(A lira que não escreveu Gonzaga) Numa qualquer madrugada De uma qualquer quarta-feira O homem de pouca fé Faz uma barba ligeira (Que coisa...
O namorado das ruas
Rio de Janeiro , 2004
Eu sou doido por Alice Mas confesso que a meiguice De Conceição me alucina. Lucília não me dá folga Porém que amor é...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...