Invocação à mulher única
Rio de Janeiro , 1938
Tu, pássaro — mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito Tu, que perpetuas o desespero humano — alma desolada da noite sobre o...
Itaoca
Rio de Janeiro , 2004
Serenamente pousada Sobre a montanha elevada Como um ninho de poesia, A casa branca e pequena É como a mansão serena Da luz, da paz, da alegria! ...
Jogo de empurra
Rio de Janeiro , 2004
Os escravos de Gê Gostavam de jogar Ponto, banca Quem jogou em 30, dá Parceiro com parceiro Pif, pif, pif, paf! Os escravos de...
Jogos e folguedos: Maria Mulata
Rio de Janeiro , 2004
Aos coros infantis Sempre preferia Os jogos de Maria Mexendo os quadris. - Maria, levanta a saia Maria, suspende o braço Maria, me dá um...
José
Rio de Janeiro , 2004
Se coubessem mil coisas num só dia E se ele não fosse um só, mas fosse mil Pelo Faux monnaieurs!!! Não haveria Quem fizesse mais coisas no...
Judeu errante
Rio de Janeiro , 1933
Hei de seguir eternamente a estrada Que há tanto tempo venho já seguindo Sem me importar com a noite que vem vindo Como uma pavorosa alma penada. Sem fé na...
Lapa de Bandeira
Rio de Janeiro , 1962
(Quinta rima) A Manuel Bandeira Existia, e ainda existe Um certo beco na Lapa Onde assistia, não assiste Um poeta no fundo triste No alto de um...
Lápide de Sinhazinha Ferreira
Rio de Janeiro , 1946
A vida sossega Lírios em repouso Adormecestes cega Na visão do esposo. A paixão é pouso Que a treva não nega A morte...
Lembrete
Rio de Janeiro , 2004
A nunca esquecer: as manhãs Da infância, os pães alemães A sala escura Na casa da rua...
Lisboa tem terremoto...
Rio de Janeiro , 2004
Lisboa tem terremoto Porém, em compensação Tem muitas cores no céu Muitos amores no chão Tem, numa casa pequena O poeta Alexandre...
Mário
Rio de Janeiro , 2004
Entre meditabundo e solonento Sobre a fofa delícia da almofada Ele vai perseguindo na jornada Através o Ottocento e o Novecento Não o tires dali que...
Máscara mortuária de Graciliano Ramos
Rio de Janeiro , 1953
Feito só, sua máscara paterna, Sua máscara tosca, de acre-doce Feição, sua máscara austerizou-se Numa preclara decisão...
Medo de amar
Rio de Janeiro , 2004
Petrópolis O céu está parado, não conta nenhum segredo A estrada está parada, não leva a nenhum lugar A areia do tempo escorre de entre meus...
Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto
Rio de Janeiro , 1959
Hoje a pátina do tempo cobre também o céu de outono Para o teu enterro de anjinho, menino morto Menino morto pelas ladeiras de Ouro Preto. Berçam-te o...
Mensagem à poesia
rio de Janeiro , 1954
Não posso Não é possível Digam-lhe que é totalmente impossível Agora não pode ser É impossível Não posso. Digam-lhe que...