Poesia 1
Rio de Janeiro , 1979
Elegia desesperada Oxford Alguém que me falasse do mistério do Amor Na sombra - alguém! alguém que me mentisse Em sorrisos, enquanto morriam os rios, enquanto...
Pressentimento
Rio de Janeiro , 2004
Deixa dormir na tua porta o sono, poeta apascentado pela Lua Seus seios bebem teu sangue para alimentar os anjos Ouve as flores, sente como as suas minúsculas tetas de perfume ...
Princípio
Rio de Janeiro , 1938
Na praia sangrenta a gelatina verde das algas — horizontes! Os olhos do afogado à tona e o sexo no fundo (a contemplação na desagregação da forma...) O mar......
Purificação
Rio de Janeiro , 1933
Senhor, logo que eu vi a natureza As lágrimas secaram. Os meus olhos pousados na contemplação Viveram o milagre de luz que explodia no céu. Eu caminhei, Senhor....
Quatro sonetos de meditação
Oxford , 1946
I Mas o instante passou. A carne nova Sente a primeira fibra enrijecer E o seu sonho infinito de morrer Passa a caber no berço de uma cova. Outra carne...
Rancho das flores
Rio de Janeiro , 2004
Entre as prendas com que a natureza Alegrou este mundo onde há tanta tristeza A beleza das flores realça em primeiro lugar É um milagre De aroma...
Receita de mulher
Rio de Janeiro , 1959
As muito feias que me perdoem Mas beleza é fundamental. É preciso Que haja qualquer coisa de flor em tudo isso Qualquer coisa de dança, qualquer coisa de haute...
Redondilhas a Laranjeiras
Rio de Janeiro , 2004
Laranjeiras pequenina Carregadinha de flor Eu também estou dando pássaros Eu também estou dando flores Eu também estou dando frutos Eu...
Santa Maria tem terras...
Rio de Janeiro , 2004
Santa Maria tem terras Como outras iguais não há Tem pastagens, tem florestas Onde canta o sabiá Deus permita que, voltando Muito mais tempo...
Sonata do amor perdido
Rio de Janeiro , 1938
Lamento nº 1 Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi...
Sonetinho a Portinari
Rio de Janeiro , 1957
O pintor pequeno O grande pintor Ruim como um veneno Bom como uma flor Vi-o da Inglaterra Uma tarde, vi-o No ermo, vadio Brodóvski onde a terra É cor de pintura Muito...
Soneto da madrugada
Rio de Janeiro , 1946
Pensar que já vivi à sombra escura Desse ideal de dor, triste ideal Que acima das paixões do bem e do mal Colocava a paixão da criatura! ...
Soneto da mulher ao sol
Rio de Janeiro , 1962
A bordo do Andrea C, a caminho da França Uma mulher ao sol - eis todo o meu desejo Vinda do sal do mar, nua, os braços em cruz A flor dos lábios entreaberta para o...
Soneto da rosa tardia
Rio de Janeiro , 1957
Como uma jovem rosa, a minha amada... Morena, linda, esgalga, penumbrosa Parece a flor colhida, ainda orvalhada Justo no instante de tornar-se rosa. Ah, porque não a deixas intocada...
Soneto de devoção
Rio de Janeiro , 1938
Essa mulher que se arremessa, fria E lúbrica aos meus braços, e nos seios Me arrebata e me beija e balbucia Versos, votos de amor e nomes feios. Essa mulher, flor de melancolia...