Os bens imóveis
Rio de Janeiro , 2004
Montevidéu Sua ausência... a asa Roça-me, do pranto... Por ela, em meu canto Chorei tanto, tanto... - Não é mesmo, Casa? Que...
Os inconsoláveis
Rio de Janeiro , 1933
Desesperados vamos pelos caminhos desertos Sem lágrimas nos olhos Desesperados buscamos constelações no céu enorme E em tudo, a escuridão. Quem nos levará...
Patético
Rio de Janeiro , 2004
Está ausente. Ausente como as vozes da minha infância E muda - eu lhe dou adeus de todos os espaços Grito o seu nome em todas as ruas - e os trens passam deixando a...
Pescador
Rio de Janeiro , 1946
Pescador, onde vais pescar esta noitada: Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas ...
Poema de aniversário
Rio de Janeiro , 1962
Porque fizeste anos, Bem-Amada, e a asa do tempo roçou teus cabelos negros, e teus grandes olhos calmos miraram por um momento o inescrutável Norte... Eu quisera...
Poema na morte de meu compadre Carlos Echenique
Rio de Janeiro , 2004
Compadre Você morreu Você morreu de sua morte simples e dolorosa Sonda na barriga (Minha comadre que me perdoe de lembrar essas coisas) Vômitos, e...
Poema para Candinho Portinari em sua morte cheia de azuis e rosas
Rio de Janeiro , 1962
Petrópolis Lá vai Candinho! Pra onde ele vai? Vai pra Brodóvski Buscar seu pai. Lá vai Candinho! Pra onde ele foi? Foi pra...
Rancho das flores
Rio de Janeiro , 2004
Entre as prendas com que a natureza Alegrou este mundo onde há tanta tristeza A beleza das flores realça em primeiro lugar É um milagre De aroma...
Revolta
Rio de Janeiro , 1933
Alma que sofres pavorosamente A dor de seres privilegiada Abandona o teu pranto, sê contente Antes que o horror da solidão te invada. Deixa que a vida te possua ardente Ó...
Rosário
Rio de Janeiro , 1946
E eu que era um menino puro Não fui perder minha infância No mangue daquela carne! Dizia que era morena Sabendo que era mulata Dizia que era...
Rua da amargura
Rio de Janeiro , 1933
A minha rua é longa e silenciosa como um caminho que foge E tem casas baixas que ficam me espiando de noite Quando a minha angústia passa olhando o alto. A minha rua tem avenidas...
Solilóquio
Rio de Janeiro , 1938
Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros E amargue em meu coração a descrença. Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! — algum dia,...
Sombra e luz
Rio de Janeiro , 1946
I Dança Deus! Sacudindo o mundo Desfigurando estrelas Afogando o mundo Na cinza dos céus Sapateia, Deus Negro na noite Semeando...
Soneto ao inverno
Londres , 1939
Inverno, doce inverno das manhãs Translúcidas, tardias e distantes Propício ao sentimento das irmãs E ao mistério da carne das amantes: ...
Soneto da rosa
Rio de Janeiro , 1954
Mais um ano na estrada percorrida Vem, como o astro matinal, que a adora Molhar de puras lágrimas de aurora A morna rosa escura e apetecida. E da fragrante tepidez sonora No recesso, como...