O bom ladrão
Rio de Janeiro , 1935
São horas, inclina o teu doloroso rosto sobre a visão da velha paisagem quieta Passeia o teu mais fundo olhar sobre os brancos horizontes onde há imagens perdidas Afaga num...
O bom pastor
Rio de Janeiro , 1933
Amo andar pelas tardes sem som, brandas, maravilhosas Com riscos de andorinhas pelo céu. Amo ir solitário pelos caminhos Olhando a tarde parada no tempo Parada no céu como um...
O cadafalso
Rio de Janeiro , 1935
Eu caí de joelhos diante do amor transtornado do teu rosto Estavas alta e imóvel — mas teus seios vieram sobre mim e me feriram os olhos E trouxeram sangue ao ar onde a tempestade...
O eleito
Rio de Janeiro , 2004
Itatiaia Quando eu era menor na grande moradia De minha avó materna e de meu pobre avô Muitas vezes senti, como alguém que sonhou Pesar sobre meu corpo o...
O espectro da rosa
Montevidéu , 1962
Juntem-se vermelho Rosa, azul e verde E quebrem o espelho Roxo para ver-te Amada anadiômena Saindo do banho Qual rosa morena Mais...
O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O mágico
Rio de Janeiro , 1938
Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...
O olhar para trás
Rio de Janeiro , 1935
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha...
O outro
Rio de Janeiro , 1935
Às vezes, na hora trêmula em que os espaços desmancham-se em neblina E a gaze da noite se esgarça suspensa na bruma dormente Eu sinto sobre o meu ser uma presença...
O poeta e a lua
rio de Janeiro , 1954
Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela rua Seus olhos verdes de éter Abrem cavernas na lua. A lua volta de flanco Eriçada de luxúria O poeta, aloucado e...
O prisioneiro
Rio de Janeiro , 1935
Eu cerrei brandamente a janela sobre a noite quieta E fiquei sozinho e parado, longe de tudo. Nenhuma percepção — talvez uma leve sensação de frio no vento E uma...
Olhe aqui, Mr. Buster *
Rio de Janeiro , 1962
* Este poema é dedicado a um americano simpático, extrovertido e podre de rico, em cuja casa estive poucos dias antes de minha volta ao Brasil, depois de cinco anos de Los Angeles, EUA. Mr....
Pescador
Rio de Janeiro , 1946
Pescador, onde vais pescar esta noitada: Nas Pedras Brancas ou na ponte da praia do Barão? Está tão perto que eu não te vejo pescador, apenas ...
Poema de Auteil
Rio de Janeiro , 1959
A coisa não é bem essa. Não há nenhuma razão no mundo (ou talvez só tu, Tristeza!) Para eu estar andando nesse meio-dia por essa rua estrangeira...