Sonata do amor perdido
Rio de Janeiro , 1938
Lamento nº 1 Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos! Na água iluminada dos rios da lua eu os vi...
Soneto da mulher inútil
rio de Janeiro , 1954
De tanta graça e de leveza tanta Que quando sobre mim, como a teu jeito Eu tão de leve sinto-te no peito Que o meu próprio suspiro te levanta. Tu, contra quem me esbato...
Soneto de agosto
Oxford , 1938
Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados Amamos, vagamente surpreendidos Pelo ardor com que estávamos unidos Nós que andávamos sempre separados. Espantei-me, confesso-te,...
Soneto de criação
Rio de Janeiro , 2004
Rio de Janeiro Deus te fez numa fôrma pequenina De uma argila bem doce e bem morena Deu-te uns olhos minúsculos de china Que parecem ter sempre um olhar de...
Soneto de maio
Rio de Janeiro , 1957
Suavemente Maio se insinua Por entre os véus de Abril, o mês cruel E lava o ar de anil, alegra a rua Alumbra os astros e aproxima o céu. Até a lua, a casta e branca...
Soneto do amor como um rio
Montevidéu , 1962
Este infinito amor de um ano faz Que é maior do que o tempo e do que tudo Este amor que é real, e que, contudo Eu já não cria que existisse mais. ...
Soneto do amor total
Rio de Janeiro , 1951
Amo-te tanto, meu amor... não cante O humano coração com mais verdade... Amo-te como amigo e como amante Numa sempre diversa realidade Amo-te afim,...
Soneto do breve momento
Rio de Janeiro , 2004
Belo Horizonte Plumas de ninhos em teus seios; urnas De rubras flores em teu ventre; flores Por todo corpo teu, terso das dores De primaveras loucas e noturnas. ...
Sonoridade
Rio de Janeiro , 1933
Meus ouvidos pousam na noite dormente como aves calmas Há iluminações no céu se desfazendo... O grilo é um coração pulsando no sono do espaço...
Sursum
Rio de Janeiro , 1935
Eu avanço no espaço as mãos crispadas, essas mãos juntas — lembras-te? — que o destino das coisas separou E sinto vir se desenrolando no ar o grande manto...
Suspensão
Rio de Janeiro , 1933
Fora de mim, fora de nós, no espaço, no vago A música dolente de uma valsa Em mim, profundamente em mim A música dolente do teu corpo E em tudo, vivendo o momento de...
Tanguinho macabro
Rio de Janeiro , 2004
- Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! Maricota, sai da chuva Você vai se resfriar! - Não me chamo Maricota Nem me vou arresfriar ...
Uiaras, na montanha, ao sol,...
Rio de Janeiro , 2004
Uiaras, na montanha, ao sol, sob a cascata Rutilante, movendo as nádegas de prata Na farta esmeralda do limo, em gelatina Nuas, verdes, nas grandes pedras, na água...
Um beijo
Petrópolis , 1962
Um minuto o nosso beijo Um só minuto; no entanto Nesse minuto de beijo Quantos segundos de espanto! Quantas mães e esposas loucas Pelo drama de um...
Um dia, como estivesse parado...
Rio de Janeiro , 2004
Um dia, como estivesse parado à borda de uma montanha ao Sol poente Apascentando a sua poesia diante dos trigais e contemplando as cidades douradas Viu o Príncipe-Poeta a minha sombra...