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O paladino dos pampas

Última Hora , 13 of September of 1951

O diretor Hugo Fregonese, um argentino de boa pinta que chegou a Hollywood aí por volta de 1945 (lembro-me que o via freqüentemente em casa de Carmen Miranda, nos gostosos banhos de piscina de domingo), deu um duro de rachar para chegar à posição que hoje ocupa na Meca de Celulóide. Ficava ele com um sorriso beatífico, mas não sem dignidade, para todos os figurões e cavalheiros da indústria que freqüentavam, ao tempo, a casa tão Carmen Miranda de Carmen Miranda, de Bedford Drive. 

Um dia fui convidado para a exibição de um filme seu, argentino. A coisa toda passou-se no teatro de Motion Pictures Association, onde é em geral administrado o Oscar anual, e eu pensei cá comigo: o homem está feito. E estava mesmo. Em breve punha-se ele a dirigir - e como dirigia mal! filmes em que procurava colocar um certo gosto psicológico, mas qual! Para princípio de conversa dirigiu ele James Mason, um dos piores atores de que há notícia em cinema - com o devido respeito a Paul Muni, naturalmente... - numa fita cujo nome agora me passa, mas onde me lembro havia uma casa perto do mar e um desastre de automóvel no qual Mason perece e se redime dos seus malfeitos. A este seguiu-se um outro abacaxi, e de repente... lá aparece ele com um filmezinho despretensioso e não sem qualidade - um cowboy sui generis, sem tiros, com pouca máscara, e essa figurinha difícil que se chama Wanda Hendrix. 

O filme, embora inodoro, não marreta o espectador em absoluto. Eu o vi até com um certo agrado, um pouco filho da surpresa de ver Fregonese humildezinho, menos cheio de tico-ticos, mais direto no processo de narração. O quixotismo sereno e desarmado de Joel Mc Crea não deixa de ter uma certa simpatia - uma simpatia rústica, silenciosa, que o diretor soube aproveitar bastante bem. 

Siga, Fregonese, assim, e me parece que se poderá tornar num bom diretor comercial. Mas Hollywood é o diabo. Quando um sujeito começa a adquirir um estilo, a pesquisar numa direção determinada, está no mato sem cachorro; sobretudo um diretor que deve estar sendo muito bom menino para seus chefões, como é o caso de Fregonese, com um salário ainda pequeno e soltando os cascos na primeira volta da pista.