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Nada de novo no front (I)

Última Hora , 18 of June of 1951

Volta hoje às telas cariocas um dos mais notáveis filmes americanos do post-silencioso. Trata-se da adaptação cinematográfica do famoso livro de Erick Maria Remarque, Nada de novo na Frente Ocidental, que marcou época pelo realismo com que narrava os horrores da guerra, vividos por um grupo de soldados alemães, de 1914 a 1918. Dirigido por Lewis Milestone, diretor dos mais consideráveis sob todos os aspectos que há em Hollywood, tive ocasião de rever o filme quando de minha estada no mais famoso subúrbio do mundo - pois urbanisticamente é o que Hollywood é, em relação a Los Angeles. 

Aliás de outros pontos de vista também. Enfim, voltando ao assunto, Nada de novo no front é um filme de grande atualidade, apesar de sob um ponto de vista exclusivamente artístico, não resistir ao tempo. Vi-o em Nova York, e depois mais duas vezes em Los Angeles, em exibições de cineclubes locais. Não é possível deixar de sentir as moscas da necrose nele operada pela passagem dos anos. Não estamos aqui diante de nenhuma Paixão de Joana d'Arc, de Carl Dreyer, nenhum Nanook ou Homem de Aran, de Flaherty, nenhum Ouro ou maldição, de Eric von Ströheim ou nenhum Couraçado Potemkin, de Eisenstein. É uma obra menor que não supera as deficiências técnicas do tempo, que não supera mesmo certos vícios do star system, o sistema do estrelato imposto ao mundo pelo cinema de Hollywood - apesar de contar com bons atores como Lew Ayres e Louis Wolheim, este já desobjetivado. Cumpre vê-la, no entanto, porque essas deficiências são compensadas por uma re-atualizacão do tema oculto na ação de que a guerra é uma monstruosidade, e de que ela destrói não apenas o homem e o que ele faz: destrói também a poesia do homem, e o sentimento de beleza e de harmonia que lhe dão equilíbrio e dignidade dentro da natureza. 

A mão de Lew Ayres que se crispa, morta, quando prestes a tocar a frágil borboleta pousada junto de sua trincheira, é a um tempo um cine-poema e um libelo, pois revela em sua tristeza uma verdade natural de que a vida é simples e bela, e há que lutar para que ela se realize em sua simplicidade e beleza, a coberto da mira certa e traiçoeira dos gênios da vingança e do ressentimento.