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Lewis Milestone

Última Hora , 11 of January of 1952

Transcrevemos hoje, a título de curiosidade, o necrológio abaixo, publicado no número especial - agosto-novembro de 1951 - sobre o surrealismo da revista não-política L'Age du Cinéma, e feito para o famoso diretor Lewis Milestone, aliás bastante vivo - e cujo filme Nada de novo na Frente Ocidental é hoje em dia um clássico do cinema americano e um grande libelo contra a guerra. Sob o estranho título "La Tribune de la tatane 3", diz o necrológio: 

O senhor Lewis Milestone, diretor de talento e, pelo que cremos, homem relativamente íntegro, acaba de morrer. É com pena que anunciamos o seu falecimento, num momento em que, mais que nunca, tem o cinema necessidade de realizações capazes de nos dar filmes como Nada de novo na Frente Ocidental. Lewis Milestone morreu em Okinawa, vítima da guerra a que aparentemente odiou tanto quanto nós. Foi ele morto pelas censuras, pelos decretos, pelas diretivas, morto sobretudo por ele próprio, ao aceitar fazer o que seus patrões queriam que fizesse. Foi morto porque substituiu a fraternidade pelo ódio, o amor ao homem pelo fanatismo do mercenário; porque acreditou que "Deus" queria a guerra e uma América forte; porque o tecnicolor lhe permitiu ver que os homens têm cores de pele diferentes; porque gritou: "Um japonês bom é um japonês morto"; porque não lutou contra as ditaduras, mas contra os homens; porque esqueceu, dentro do fogo, o horror da morte, para não ver senão a glória militar; porque se desinteressou dos homens para se interessar pelos soldados. 

Nós não choraremos o senhor Lewis Milestone, porque ele deixou um testamento que tem por título: Nada de novo na Frente Ocidental e que em 51 é tão válido quanto em 31, senão mais. À guisa de flores e coroas, nós iremos rever essa obra-prima.