Místico
Rio de Janeiro , 1933
O ar está cheio de murmúrios misteriosos E na névoa clara das coisas há um vago sentido de espiritualização... Tudo está cheio de ruídos...
O assassino
rio de Janeiro , 1954
Meninas de colégio Apenas acordadas Desuniformizadas Em vossos uniformes Anjos longiformes De faces rosadas E pernas enormes Quem vos acompanha? Quem vos acompanha Colegiais...
O camelô do amor
Rio de Janeiro , 2004
Los Angeles O Amor tonifica o cabelo das mulheres Torna-o vivo e dá-lhe um brilho natural. Ondulações permanentes? só das do amor. Amai! Nada melhor...
O cemitério na madrugada
Rio de Janeiro , 1938
Às cinco da manhã a angústia se veste de branco E fica como louca, sentada, espiando o mar... É a hora em que se acende o fogo-fátuo da madrugada Sobre os...
O escândalo da rosa
Rio de Janeiro , 1946
Oh rosa que raivosa Assim carmesim Quem te fez zelosa O carme tão ruim? Que anjo ou que pássaro Roubou tua cor Que ventos passaram ...
O escravo
Rio de Janeiro , 1935
J'ai plus de souvenirs que si j'avais mille ans. Baudelaire A grande Morte que cada um traz em si. Rilke Quando a tarde veio o vento veio e...
O espectro da rosa
Montevidéu , 1962
Juntem-se vermelho Rosa, azul e verde E quebrem o espelho Roxo para ver-te Amada anadiômena Saindo do banho Qual rosa morena Mais...
O incriado
Rio de Janeiro , 1935
Distantes estão os caminhos que vão para o Tempo — outro luar eu vi passar na altura Nas plagas verdes as mesmas lamentações escuto como vindas da eterna espera O...
O mágico
Rio de Janeiro , 1938
Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a...
O nascimento do homem
Rio de Janeiro , 1935
I E uma vez, quando ajoelhados assistíamos à dança nua das auroras Surgiu do céu parado como uma visão de alta serenidade Uma branca mulher de cujo sexo a luz...
O olhar para trás
Rio de Janeiro , 1935
Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mão que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um círio queimando para o céu a minha...
O outro
Rio de Janeiro , 1935
Às vezes, na hora trêmula em que os espaços desmancham-se em neblina E a gaze da noite se esgarça suspensa na bruma dormente Eu sinto sobre o meu ser uma presença...
O poeta e a rosa
Rio de Janeiro , 1962
( E com direito a passarinho) Ao ver uma rosa branca O poeta disse: Que linda! Cantarei sua beleza Como ninguém nunca ainda! Qual não é...
O riso
Rio de Janeiro , 1946
Aquele riso foi o canto célebre Da primeira estrela, em vão. Milagre de primavera intacta No sepulcro de neve Rosa aberta ao vento, breve Muito...
O único caminho
Rio de Janeiro , 1933
No tempo em que o Espírito habitava a terra E em que os homens sentiam na carne a beleza da arte Eu ainda não tinha aparecido. Naquele tempo as pombas brincavam com as crianças...