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O anjo das pernas tortas

Rio de Janeiro , 1962

A Flávio Porto 

A um passe de Didi, Garrincha avança 
Colado o couro aos pés, o olhar atento 
Dribla um, dribla dois, depois descansa 
Como a medir o lance do momento. 

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança 
Mais rápido que o próprio pensamento 
Dribla mais um, mais dois; a bola trança 
Feliz, entre seus pés - um pé-de-vento! 

Num só transporte a multidão contrita 
Em ato de morte se levanta e grita 
Seu uníssono canto de esperança. 

Garrincha, o anjo, escuta e atende: - Goooool! 
É pura imagem: um G que chuta um o 
Dentro da meta, um 1. É pura dança!