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VINICIUS E TOQUINHO

Philips, 1974

Direção e Produção: Paulinho Tapajós.
  • Como é duro trabalhar

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Fui caminhando, caminhando 
    À procura de um lugar 
    Com uma palhoça, uma morena 
    E um cantinho pra plantar 

    Achei a terra, vi a casa 
    Só faltava capinar 
    Mas sem o colo da morena 
    Quem sou eu pra me abusar 

    E lá vou eu 
    Paro aqui, paro acolá 
    E lá vou eu 
    Como é duro trabalhar 

    E vou cantando, tiro moda 
    Faço roda no arraial 
    Busco a morena de olho em calda 
    Cheiro de canavial 

    E bico essa, bico aquela 
    Vou bicando sem parar 
    Mas não tem mais moça donzela 
    Que mereça eu me abusar

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Samba da volta

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Você voltou, meu amor 
    A alegria que me deu 
    Quando a porta abriu 
    Você me olhou 
    Você sorriu 
    Ah, você se derreteu 
    E se atirou 
    Me envolveu 
    Me brincou 
    Conferiu o que era seu 
    É verdade, eu reconheço 
    Eu tantas fiz 
    Mas agora tanto faz 
    O perdão pediu seu preço 
    Meu amor 
    Eu te amo e Deus é mais

    Tonga Editora Musical LTDA
  • A carta que não foi mandada

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Paris, outono de 73 
    Estou no nosso bar mais uma vez 
    E escrevo pra dizer 
    Que é a mesma taça e a mesma luz 
    Brilhando no champanhe em vários tons azuis 
    No espelho em frente eu sou mais um freguês 
    Um homem que já foi feliz, talvez 
    E vejo que em seu rosto correm lágrimas de dor 
    Saudades, certamente, de algum grande amor 

    Mas ao vê-lo assim tão triste e só 
    Sou eu que estou chorando 
    Lágrimas iguais 
    E, a vida é assim, o tempo passa 
    E fica relembrando 
    Canções do amor demais 
    Sim, será mais um, mais um qualquer 
    Que vem de vez em quando 
    E olha para trás 
    É, existe sempre uma mulher 
    Pra se ficar pensando 
    Nem sei... nem lembro mais

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Triste sertão

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Juriti é pássaro triste 
    Canta em muita solidão 
    Nem sequer sabe que existe 
    Amigo, mulher e violão 
    Canta para xique-xique 
    Cascavel, camaleão 
    Só responde a siriema 
    Que grita de chegar a fazer pena 
    Na velha catinga do sertão 

    Quéu-quéu chorou 
    Mata branca em desesperação 
    Credo cruz, espia que pavor 
    Caipora mora na escuridão 

    Não se ouve nem um pio 
    Cadê Zé, cadê João 
    Cadê água, cadê rio 
    É ano de seca no sertão 
    Lá onde a vida se acaba 
    Vive só quem tem razão 
    Vive o bode, vive a cabra 
    E o maracujá e a cana-brava 
    E o mandacaru e a assombração 

    Quéu-quéu chorou 
    Mata branca em desesperação 
    Credo cruz, espia que pavor 
    Caipora mora na escuridão

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Carta ao Tom

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Rua Nascimento e Silva, 107 
    Você ensinando pra Elizete 
    As canções de Canção do amor demais 

    Lembra que tempo feliz 
    Ah, que saudade 
    Ipanema era só felicidade 
    Era como se o amor doesse em paz 

    Nossa famosa garota nem sabia 
    A que ponto a cidade turvaria 
    Esse Rio de amor que se perdeu 
    Mesmo a tristeza da gente era mais bela 
    E além disso se via da janela 
    Um cantinho de céu e o Redentor 

    É, meu amigo, só resta uma certeza 
    É preciso acabar com essa tristeza 
    E preciso inventar de novo o amor

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Canto e contraponto

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Ai, amante, espera um pouco 
    Deixa que se canse 
    Este desejo louco 
    De teu corpo 
    Deixa que se estanque 
    O canto rouco 
    De paixão 
    Que noite sem fim 
    Soluça em mim 
    Dilacerante 
    Sim, abranda as duras farpas 
    Nas mortais escarpas 
    Nos furores nossos 
    Porque, exausta carne 
    Nas sangrentas bodas 
    Só terás meus ossos 
    Saturnais destroços 
    Deste amor fatal


    Tonga Editora Musical LTDA
  • Samba pra Vinicius

    Toquinho, Chico Buarque

    Poeta, meu poeta camarada
    Poeta da pesada,
    Do pagode e do perdão
    Perdoa essa canção improvisada
    Em tua inspiração
    De todo o coração,
    Da moça e do violão, do fundo.

    Poeta, poetinha vagabundo
    Virado, viramundo,
    Vira e mexe, paga e vê
    Que a vida não gosta de esperar
    A vida é pra valer
    A vida é pra levar
    Vininha, velho, saravá

    Poeta, meu poeta camarada
    Poeta da pesada,
    Do pagode e do perdão
    Perdoa essa canção improvisada
    Em tua inspiração
    De todo o coração,
    Da moça e do violão, do fundo.

    Poeta, poetinha vagabundo
    Quem dera todo mundo fosse assim feito você
    Que a vida não gosta de esperar
    A vida é pra valer,
    A vida é pra levar,
    Vininha, velho, saravá
  • Sem medo

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Como é que pode, a gente ser menino 
    Ter sua coragem, traçar seu destino 
    Sem pular o muro, trepar no coqueiro 
    Ir no quarto escuro, mãe 
    Me mete medo, mãe 
    Me mete medo, mãe 
    Me mete medo 
    O bicho te pega, boi da cara preta 
    Deus te castiga, medo de careta 
    Boi da cara preta, mãe 
    Me mete medo, mãe 
    Me mete medo, mãe 
    Me mete medo 

    Mas atravesse o escuro sem medo 
    Atravesse o escuro sem medo 
    Atravesse o escuro sem medo 
    De repente a gente começa a crescer 
    Quer uma mulher que não pode ser 
    O pai quer matar, a mãe quer morrer 
    Não dá pra ganhar, não dá pra perder 
    Não dá 
    A mulher se joga do alto do edifício 
    Porque o mais fácil fica o mais difícil 
    Fica o mais difícil 
    Mas atravesse a vida sem medo 
    Atravesse a vida sem medo 
    Atravesse a vida sem medo 

    O perigo existe, faz parte do jogo 
    Mas não fique triste, que viver é fogo 
    Veja se resiste, comece de novo 
    Comece de novo, comece de novo 
    Ao cruzar a rua você está arriscando 
    Pode estar na lua, pode estar amando 
    Passa um caminhão, cruza uma perua 
    O cara tá na dele, você tá na sua 
    Você tá na sua, você tá na sua 
    Mas atravesse a rua sem medo 
    Atravesse a rua sem medo 
    Atravesse a rua sem medo 

    Chega um belo dia de qualquer semana 
    Alguém bate na porta, é um telegrama 
    Ela está chamando, é um telegrama 
    Ela está chamando, pra uns ela vem cedo 
    Pra outros vem tarde 
    É que cedo ou tarde, ela vem de repente 
    Chega pro covarde, chega pro valente 
    Só tem que ninguém gosta de ir na frente 
    Gosta de ir na frente 
    Gosta de ir na frente 
    Gosta de ir na frente 
    Mas atravesse a morte sem medo 
    Atravesse a morte sem medo 
    Atravesse a morte sem medo

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Samba do jato

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Um galo cantou 
    Meu sonho acordou 
    O jogo acabou, calado 
    E eu madruguei 
    Chutando pedras pelo chão 
    Com a solidão do lado 

    Um cão me seguiu 
    Um jato partiu 
    E tudo ficou parado 
    E eu acabei naquele bar 
    Onde nós dois 
    Vivemos nosso passado 
    Fui beber 
    Meu "traçado" de paixão e dor 
    Com o copo a suar 
    Minha ilusão de amor

    Tonga Editora Musical LTDA
  • As cores de abril

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    As cores de abril
    Os ares de anil
    O mundo se abriu em flor
    E pássaros mil
    Nas flores de abril
    Voando e fazendo amor

    O canto gentil
    De quem bem te viu
    Num pranto desolador
    Não chora, me ouviu
    Que as cores de abril
    Não querem saber de dor

    Olha quanta beleza
    Tudo é pura visão
    E a natureza transforma a vida em canção

    Sou eu, o poeta, quem diz
    Vai e canta, meu irmão
    Ser feliz é viver morto de paixão

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Tudo na mais santa paz

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Tranca bem a porta, amor
    Fecha a janela e passa a tramela, por favor
    E se não se importa, amor
    Defuma a casa em nome de Nosso Senhor

    Acabou a festa, amor
    Ainda tem uma cerveja no congelador
    Vamos ao que resta, amor
    Dia de festa é véspera de muita dor

    E se o fantasma ficar e se o cachorro latir
    E se o silêncio gritar e se o pavor assumir
    E se a mulher não topar e se o amigo sumir
    E se o relógio parar e se amanhã não surgir

    Tudo na mais perfeita ordem
    Tudo na mais santa paz