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DEUS LHE PAGUE
EMI-Odeon, 1976
Direção de produção: Renato Corrêa
Produção executiva: Aloysio de Oliveira
Produção executiva: Aloysio de Oliveira
Faixas letra/música
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1 - Eu agradeço (DEUS LHE PAGUE)
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2 - O que é que tem sentido nesta vida (DEUS LHE PAGUE)
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3 - Samblues do dinheiro (DEUS LHE PAGUE)
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4 - Lamento de João (DEUS LHE PAGUE)
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5 - Labirinto (DEUS LHE PAGUE)
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6 - Tá difícil (DEUS LHE PAGUE)
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7 - Um novo dia (DEUS LHE PAGUE)
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8 - Além do tempo (DEUS LHE PAGUE)
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9 - Decididamente (DEUS LHE PAGUE)
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10 - Pobre de mim (DEUS LHE PAGUE)
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11 - João não tem de quê (DEUS LHE PAGUE)
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12 - Cara-de-pau (DEUS LHE PAGUE)
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Eu agradeço
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Eu agradeço
Eu agradeço a você
Muito obrigado por toda a beleza que você nos deu
Sua presença, eu reconheço
Foi a melhor recompensa
Que a vida nos ofereceu
Foi muito lindo
Você ter vindo
Sempre ajudando, sorrindo, dizendo
Que não tem de quê
Eu agradeço, eu agradeço
Você ter me virado do avesso
E ensinado a viver
Eu reconheço que não tem preço
Gente que gosta de gente assim feito você
Tonga Editora Musical LTDA -
O que é que tem sentido nesta vida
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
O que é que tem sentido nesta vida
Não vai ser casa e comida
Cama fofa, cobertor
Não vai ser ficar mirando os astros
Ou então andar de rastros
Pelas sendas do senhor
Para muitos é o dinheiro
Ir de janeiro a janeiro
De pé no acelerador
Eu sinceramente, preferia
Uma vida de poesia
Na vigília de um amor
Há quem creia em ter status
Sair em fotos & fatos
Ter ações ao portador
Eu só acredito em liberdade
E estar sempre com saudade
De viver um grande amor
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Samblues do dinheiro
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Nunca vi muito dinheiro
Trazer felicidade pra ninguém
Dinheiro vai!
Dinheiro vai!
Dinheiro pela frente
Dinheiro por de trás
Me diga qual o bem que isto faz
Dinheiro pelo sim
Dinheiro pelo não
No fim são sete palmos de chão
Dinheiro vai!
Dinheiro com dinheiro
Querem se juntar
É só multiplicar e somar
Guerreiro com guerreiro
Só querem guerrear
Só fazem zig zig zig zá
Dinheiro vai!
As coisas são mais fáceis
Pra quem se chama Onassis
Dinheiro pelo sim
Dinheiro pelo não
Dinheiro vai!
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Lamento de João
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Meu ofício é vir de longe
Chegar tarde, sem tostão
Trabalhar sem fazer força
Ir-me embora sem razão
Vem pensar o meu caminho
Joga encargos onde eu for
Que eu prefiro andar sozinho
Que criar um falso amor
Eu gosto muito de moça
Porém sem misturação
Dez pra ter perto dos olhos
E uma só junto da mão
Queira Deus que ele me desse
Como gratificação
Uma terra brasileira
Pra eu plantar meu coração
Falado
Eu saí cedo de casa. O pai mandava brasa sem parar, e as crianças nasciam, cresciam e morriam, tudo ao mesmo tempo. Saí e fui andando. Às vezes pegava um leito, um mutirão, mas não era o que meu coração pedia. Meu coração pedia sombra, água fresca e colo de moça bonita. Um dia, eu estava tão esmulambado que um cara, sei lá, devia ser louco, meteu a mão no bolso e me passou um Deodoro. Rapaz! Eu não sei como minha mão foi caminhando pra frente, sem me pedir licença. Foi, e de repente ficou assim, parada no ar, de palma pra cima, numa aceitação tão linda que cheguei a ficar com lágrimas nos olhos. Intentei bem naquela mão, naquele gesto, sentindo que ele dava tudo o que eu queria da vida. E foi aí que comecei a trabalhar de mendigo. Verdade que levantei uma "ervinha fofa". Não sei como eu agradava. Isto é, eu sei: por causa do meu modo de pedir, de minha bossa de esmolar, para tornar o doador responsável pela esmola que dava. Aí, veio a mania de viagens, eu me engajava em qualquer navio e partia. Assim, corri o mundo e aprendi a mendigar em muitas línguas. Fui mendigo em Singapura, em Túnis, no Cairo, em Adis Abeba, e por aí. Mas aí deu a saudade do tutu com torresmo, da galinha ao molho pardo, da empadinha de camarão, e eu me mandei de volta. Vim ser um mendigo inserido no meu contexto. Vim ser um mendigo subdesenvolvido, ou melhor, em fase de desenvolvimento, como querem os economistas, e estou contente.
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Labirinto
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Não me lembro de onde vim
E já nem sei mesmo para onde é que eu vou
Não conheço o meu caminho
Estou começando a nem saber se estou
Sou um manequim, eu sou em sem mim
Sou um manequim que a vida já despiu
Que o vento já levou
Dentro deste labirinto
Sinto crescer a minha solidão
Passam braços que me enlaçam
Mãos que roçam pela escuridão
Que será de mim?
Eu sou eu sem mim
Sou um manequim que vai sem direção
Em busca de seu fim
Ah, quem me dera coragem
Ah, quem me dera a esperança
Ah, se eu pudesse encontrar o amor
E dizer-lhe que estou ao seu inteiro dispor
De onde surgem estas luzes?
Cruzes! Que medo, são assombrações
Sombras que se arrastam lentas
E, pelos espaços, mais estranhos sons
Estou chegando ao fim, eu sou eu sem mim
Sou um manequim sozinho e sem canções
Estou chegando ao fim
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Tá difícil
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Que língua é essa?
Deve ser língua de "estranja"
Essa língua ninguém manja
Que será desses
Tá me pintando que é linguagem de francês
Isso é língua de inglês ou de doido lá do hospício
É tão difícil
Tá difícil, tá difícil
Pode ser, mas tá difícil
Tá difícil de entender
Prá falar isso só mudando de ofício
Porque só quem fala isso é João
"Não-tem-de-quê"
Se eu bem me lembro
Pra ganhar a minha esmola
Tirei curso em muito escola
De Beirute a Bombaim
Já no meu caso
Eu não quis entrar na fila
Fiz meu curso na Socila
Lá na porta do Bonfim
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Um novo dia
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Um novo dia vem nascendo
Um novo sol já vai raiar
Parece a vida, rompendo em luz
E que nos convida a amar
Oh, meu irmão, não desespera
Espera a luz acontecer
Para que a vida renasça em paz
Nesse novo amanhecer
Surgem as abelhas em zoeira a sugar o mel das flores gentis
Param as ovelhas pelo monte, a recordar os horizontes felizes
Vindo à distância cantam galos em longínquos intervalos de sons
Pombos revoando, vão uivando, vão passando nestes céus tão azuis
Ah, quanta cor e luz!
E o movimento vai crescendo
Vai aumentando em amplidão
Parece a vida pulsar no ar
O bater de um coração
Sobem pregões vindos da praça
Começa o povo a aparecer
Quem quer comprar neste novo dia
A alegria de viver?
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Além do tempo
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Esse amor sem fim, onde andará?
Que eu busco tanto e nunca está
E não me sai do pensamento
Sempre, sempre longe
Esse amor tão lindo que se esconde
Nos confins do não sei onde
Vive em mim além do tempo
Longe, longe, onde?
Por que não me surges nessa hora
Como um sol
Como o sol no mar
Quando vem a aurora
Esse amor que o amor me prometeu
E que até hoje não me deu
Por que não está ao lado meu?
Esse amor sem fim, onde andará?
Esse amor, meu amor,
Onde andará?
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Decididamente
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Decididamente, eu não sou gente.
Eu sou um ente incompetente, mal-acabado
Eu, infelizmente, não consigo sequer ser um mendingo
Dá tudo errado
Deus, quando me fez, devia estar muito invocado
Ganhou o campeonato de fazer nego sofrer
Urubu pousou na minha sorte
Eu nasci pra boi de corte
Deu cupim no meu viver
Sábado passado, quando eu vinha
Uma zinha "da pontinha"
Fez uma linda carinha para mim
Eu, aí, peguei minha pessoa
E fui andando para a boa
Na esperança de um domingo menos ruim
Pois, amigo, que é que você acha
Vou e levo uma "bolacha"
De um frajola que eu não sei de onde surgiu
E que, além de tudo, não contente
Me mandou apenasmente
Quando você está mesmo sem sorte
Nem a vida e nem a morte
Querem nada de saber de você, não
Você pode estar morto, defunto
E vêm os vermes todos juntos
Lhe pedir pra não seguir a refeição
Chega o dia e a vida está tão chata
Que você pega e se mata
Dá um tiro que parece de canhão
Mas a sua sorte é tão ingrata que ele sai pela culatra
Com licença da expressão
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Pobre de mim
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Pobre de mim
Sonho tanto em ser alguém que não sou
Por exemplo, uma mulher toda assim
Feito a Marilyn Monroe
Já eu, enfim
Não inspiro um grande amor a ninguém
Na verdade, se eu pareço com alguém
É o Popeye, the sailorman
Que mau destino
Não aguento este meu ar de menino
Quem me dera casar com um grã-fino
Ou com um rei, por que não?
Eu não sei a ligação
Eu só sei que dava tudo de mim
Para ao menos paracer Marilyn
E viver um grande amor
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João não tem de quê
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Se eu me chamo assim
É porque sempre fui educado
A quem me diz "obrigado"
Eu digo "não tem de quê"
Sou um mendigo mais cortês
Que qualquer diplomado
Sou um aristocrata
E só bebo escocês
E o que eu retiro da féria
Na arte de mendigar
É pra sair da miséria
Curtindo um bom caviar
Nossa nobre profissão
Tem por obrigação nos dar muito lazer
Basta estender a mão
Por isso eu digo a você
Que me pergunta a razão
Por que o amigo João
Se chama "Não tem de quê"
Se assim me chamo é porque
Eu sempre fui educado
A quem me diz "obrigado"
Eu digo "não tem de quê" -
Cara-de-pau
Vinicius de Moraes, Edu Lobo
Pega aquela muleta!
Pule como perneta!
E onde é que está sua perna de pau?
Chega dessa corcova
Ponha uma bossa nova
E atarracha uma cara de pau
E por todo o caminho
Vá naquele passinho
Devagarinho
Bem de mansinho
Devagarinho
Bem de mansinho
Pregue a orelha na boca
Faça cara de louca
Elimine dois dedos da mão
Ponha um olho de vidro
E um pé dentro do ouvido
Fique sempre a três palmos do chão
E a mão estendida
É uma boa pedida
Grande pedida!
Boa pedida!
Grande pedida!
Boa pedida!
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