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10 ANOS DE TOQUINHO E VINICIUS

Philips, 1979

Direção de produção: Luiz Roberto
  • Pot-pourri nº 1: A bênção, Bahia / Tarde em Itapoã / Tatamirô (em louvor de Mãe Menininha) / Meu Pai Oxalá / Canto de Oxum / Maria vai com as outras

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    A bênção, Bahia
    (Vinicius de Moraes / Toquinho)

    Olorô, Bahia 
    Nós viemos pedir sua bênção, saravá! 
    Hepa hê, meu guia 
    Nós viemos dormir no colinho de lemanjá! 

    Nanã Borokô fazer um Bulandê 
    Efó, caruru e aluá 
    Pimenta bastante pra fazer sofrer 
    Bastante mulata para amar 

    Fazer juntó 
    Meu guia, hê 
    Seu guia, hê 
    Bahia! 

    Saravá, senhora 
    Nossa mãe foi-se embora pra sempre do Afojá 
    A rainha agora 
    É Oxum, é a mãe Menininha do Gantois 

    Pedir à mãe Olga do Alakêto, hê 
    Chamar Inhansã para dançar 
    Xangô, rei Xangô, Kabueci-elê 
    Meu pai! Oxalá, hepa babá! 

    A bênção, mãe 
    Senhora mãe 
    Menina mãe 
    Rainha! 

    Olorô, Bahia 
    Nós viemos pedir sua bênção, saravá! 
    Hepa hê, meu guia 
    Nós viemos dormir no colinho de lemanjá!

    Tonga Editora Musical LTDA


    Tarde em Itapoã
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Um velho calção de banho 
    O dia pra vadiar 
    Um mar que não tem tamanho 
    E um arco-íris no ar 
    Depois na praça Caymmi 
    Sentir preguiça no corpo 
    E numa esteira de vime 
    Beber uma água de coco 

    É bom 
    Passar uma tarde em Itapuã 
    Ao sol que arde em Itapuã 
    Ouvindo o mar de Itapuã 
    Falar de amor em Itapuã 

    Enquanto o mar inaugura 
    Um verde novinho em folha 
    Argumentar com doçura 
    Com uma cachaça de rolha 
    E com o olhar esquecido 
    No encontro de céu e mar 
    Bem devagar ir sentindo 
    A terra toda a rodar 

    É bom 
    Passar uma tarde em Itapuã 
    Ao sol que arde em Itapuã 
    Ouvindo o mar de Itapuã 
    Falar de amor em Itapuã 

    Depois sentir o arrepio 
    Do vento que a noite traz 
    E o diz-que-diz-que macio 
    Que brota dos coqueirais 
    E nos espaços serenos 
    Sem ontem nem amanhã 
    Dormir nos braços morenos 
    Da lua de Itapuã 

    É bom 
    Passar uma tarde em Itapuã 
    Ao sol que arde em Itapuã 
    Ouvindo o mar de Itapuã 
    Falar de amor em Itapuã

    Tonga Editora Musical LTDA


    Tatamirô (em louvor de Mãe Menininha)
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Apanha folha por folha, Tatamirô 
    Apanha maracanã, Tatamirô 
    Eu sou filha de Oxalá, Tatamirô 
    Menininha me apanhou, Tatamirô! 

    Xangô me leva, Oxalá me traz 
    Xangô me dá guerra, Oxalá me dá paz 

    Apanha folha por folha, Tatamirô 
    Apanha maracanã Tatamirô 
    Eu sou filho de Ossain, Tatamirô 
    Menininha me adotou, Tatamirô! 

    Oxalá de frente, Xangô de trás 
    Xangô me dá guerra, Oxalá me dá paz 

    Apanha folha por folha, Tatamirô 
    Apanha maracanã, Tatamirô 
    Eu sou filho de Ogun, Tatamirô 
    Menininha me ganhou, Tatamirô! 

    Apanha folha por folha, Tatamirô 
    Apanha maracanã, Tatamirô 
    Eu sou filha de Inhansã, Tatamirô 
    Menininha me batizou, Tatamirô! 

    Apanha folha por folha, Tatamirô 
    Apanha maracanã, Tatamirô 
    Ela é a Mãe Menininha do Gantois 
    Que Oxum abençoou, Tatamirô! 

    Oxalá me vem, todo mal me vai 
    Xangô é meu Rei, Oxalá é meu pai

    Tonga Editora Musical LTDA


    Meu Pai Oxalá
    (Toquinho / Vinícius de Moraes)

    Atotô Abaluayê Atotô babá Atotô Abaluayê Atotô babá
    Vem das águas de Oxalá Essa mágoa que me dá Ela parecia o dia A romper da escuridão Linda no seu manto todo branco Em meio à procissão E eu, que ela nem via Ao Deus pedia amor e proteção
    Meu pai Oxalá é o rei Venha me valer O velho Omulu Atotô Abaluayê
    Que vontade de chorar No terreiro de Oxalá Quando eu dei com a minha ingrata Que era filha de Inhansã Com a sua espada cor-de-prata Em meio à multidão Cercando Xangô num balanceio Cheio de paixão
    Atotô Abaluayê Atotô babá Atotô Abaluayê Atotô babá


    Canto de Oxum
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Nhem-nhem-nhem 
    Nhem-nhem-nhem-xorodó 
    Nhem-nhem-nhem-xorodó
    É o mar, é o mar 
    Fé-fé xorodó! 

    Xangô andava em guerra 
    Vencia toda a terra 
    Tinha ao seu lado 
    Inhansã pra lhe ajudar 
    Oxum era rainha 
    Na mão direita tinha 
    O seu espelho onde vivia a se mirar 

    Quando Xangô voltou 
    O povo celebrou 
    Teve uma festa que ninguém mais esqueceu 
    Tão linda Oxum entrou 
    Que veio o Rei Xangô 
    E a colocou no trono esquerdo ao lado seu 

    Inhansã apaixonada 
    Cravou a sua espada 
    No lugar vago que era o trono da traição 
    Chamou um temporal 
    E no pavor geral 
    Correu dali gritando a sua maldição!


    Maria vai com as outras
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Maria era uma boa moça 
    Pra turma lá do Gantois 
    Era a Maria vai com as outras 
    Maria de coser, Maria de casar 

    Porém o que ninguém sabia 
    É que tinha um particular 
    Além de coser, além de rezar 
    Também era Maria de pecar 

    Tumba-ê, caboclo, tumba lá e cá 
    Tumba-ê, guerreiro, tumba lá e cá 
    Tumba-ê, meu pai, tumba lá e cá 
    Não me deixe só, tumba lá e cá 

    Maria que não foi com as outras 
    Maria que não foi pro mar 
    No dia dois de fevereiro 
    Maria não brincou na festa de lemanjá 
    Não foi jogar água-de-cheiro 
    Nem flores pra sua Orixá 
    Aí, Iemanjá pegou e levou 
    O moço de Maria para o mar 

    Tumba-ê, caboclo, tumba lá e cá 
    Tumba-ê, guerreiro, tumba lá e cá 
    Tumba-ê, meu pai, tumba lá e cá 
    Não me deixe só, tumba lá e cá
  • Pot-pourri nº 2: Um homem chamado Alfredo / Sei lá... a vida tem sempre razão / O poeta aprendiz

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Um homem chamado Alfredo
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    O meu vizinho do lado 
    Se matou de solidão 
    Abriu o gás, o coitado 
    O último gás do bujão 
    Porque ninguém o queria 
    Ninguém lhe dava atenção 
    Porque ninguém mais lhe abria 
    As portas do coração 
    Levou com ele seu louro 
    E um gato de estimação 

    Há tanta gente sozinha 
    Que a gente mal adivinha 
    Gente sem vez para amar 
    Gente sem mão para dar 
    Gente que basta um olhar 
    Quase nada 
    Gente com os olhos no chão 
    Sempre pedindo perdão 
    Gente que a gente não vê 
    Porque é quase nada 

    Eu sempre o cumprimentava 
    Porque parecia bom 
    Um homem por trás dos óculos 
    Como diria Drummond 
    Num velho papel de embrulho 
    Deixou um bilhete seu 
    Dizendo que se matava 
    De cansado de viver 
    Embaixo assinado Alfredo 
    Mas ninguém sabe de quê

    Tonga Editora Musical LTDA


    Sei lá... a vida tem sempre razão
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Tem dias que eu fico 
    Pensando na vida 
    E sinceramente 
    Não vejo saída 
    Como é, por exemplo 
    Que dá pra entender 
    A gente mal nasce 
    Começa a morrer 
    Depois da chegada 
    Vem sempre a partida 
    Porque não há nada 
    Sem separação 

    Sei lá, sei lá 
    A vida é uma grande ilusão 
    Sei lá, sei lá 
    Só sei que ela está com a razão 

    A gente nem sabe 
    Que males se apronta 
    Fazendo de conta 
    Fingindo esquecer 
    Que nada renasce 
    Antes que se acabe 
    E o sol que desponta 
    Tem que anoitecer 
    De nada adianta 
    Ficar-se de fora 
    A hora do sim 
    É um descuido do não 

    Sei lá, sei lá 
    Só sei que é preciso paixão 
    Sei lá, sei lá 
    A vida tem sempre razão

    Tonga Editora Musical LTDA


    O poeta aprendiz
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Ele era um menino 
    Valente e caprino 
    Um pequeno infante 
    Sadio e grimpante. 
    Anos tinha dez 
    E asinhas nos pés 
    Com chumbo e bodoque 
    Era plic e ploc. 
    O olhar verde-gaio 
    Parecia um raio 
    Para tangerina 
    Pião ou menina. 
    Seu corpo moreno 
    Vivia correndo 
    Pulava no escuro 
    Não importa que muro 
    E caía exato 
    Como cai um gato. 
    No diabolô 
    Que bom jogador 
    Bilboquê então 
    Era plim e plão. 
    Saltava de anjo 
    Melhor que marmanjo 
    E dava o mergulho 
    Sem fazer barulho. 
    No fundo do mar 
    Sabia encontrar 
    Estrelas, ouriços 
    E até deixa-dissos. 
    Às vezes nadava 
    Um mundo de água 
    E não era menino 
    Por nada mofino 
    Sendo que uma vez 
    Embolou com três. 
    Sua coleção 
    De achados do chão 
    Abundava em conchas 
    Botões, coisas tronchas 
    Seixos, caramujos 
    Marulhantes, cujos 
    Colocava ao ouvido 
    Com ar entendido 
    Rolhas, espoletas 
    E malacachetas 
    Cacos coloridos 
    E bolas de vidro 
    E dez pelo menos 
    Camisas-de-vênus. 
    Em gude de bilha 
    Era maravilha 
    E em bola de meia 
    Jogando de meia - 
    Direita ou de ponta 
    Passava da conta 
    De tanto driblar. 
    Amava era amar. 
    Amava sua ama 
    Nos jogos de cama 
    Amava as criadas 
    Varrendo as escadas 
    Amava as gurias 
    Da rua, vadias 
    Amava suas primas 
    Levadas e opimas 
    Amava suas tias 
    De peles macias 
    Amava as artistas 
    Das cine-revistas 
    Amava a mulher 
    A mais não poder. 
    Por isso fazia 
    Seu grão de poesia 
    E achava bonita 
    A palavra escrita. 
    Por isso sofria. 
    Da melancolia 
    De sonhar o poeta 
    Que quem sabe um dia 
    Poderia ser.

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Pot-pourri nº 3: O velho e a flor - Veja você - Mais um adeus

    Vinicius de Moraes, Toquinho, Luis Enrique Bacalov

    O velho e a flor
    (Luis Enrique Bacalov / Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Por céus e mares eu andei 
    Vi um poeta e vi um rei 
    Na esperança de saber o que é o amor 
    Ninguém sabia me dizer 
    E eu já queria até morrer 
    Quando um velhinho com uma flor assim falou 

    O amor é o carinho 
    É o espinho que não se vê em cada flor 
    É a vida quando 
    Chega sangrando 
    Aberta em pétalas de amor

    Tonga Editora Musical LTDA

    Veja você
    (Toquinho / Vinícius de Moraes)

    Veja você, eu que tanto cuidei minha paz
    Tenho o peito doendo, sangrando de amor
    Por demais
    Agora eu sei a extensão da loucura que fiz
    Eu que acordo cantando
    Sem medo de ser infeliz

    Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?
    Você tinha era manias demais
    Mas aí o amor chegou
    Desabou a sua paz
    Despediu seu desamor pra nunca mais
    Algum dia você vai compreender
    A extensão de todo bem que eu lhe fiz
    E você há de dizer: Eu agora sou feliz
    Quem te viu e quem te vê, hein rapaz?


    Mais um adeus
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Mais um adeus 
    Uma separação 
    Outra vez, solidão 
    Outra vez, sofrimento 
    Mais um adeus 
    Que não pode esperar 

    O amor é uma agonia 
    Vem de noite, vai de dia 
    É uma alegria 
    E de repente 
    Uma vontade de chorar 

    Contraponto 

    Olha, benzinho, cuidado 
    Com o seu resfriado 
    Não pegue sereno 
    Não tome gelado 
    O gim é um veneno 
    Cuidado, benzinho 
    Não beba demais 
    Se guarde para mim 
    A ausência é um sofrimento 
    E se tiver um momento 
    Me escreva um carinho 
    E mande o dinheiro 
    Pro apartamento 
    Porque o vencimento 
    Não é como eu: 
    Não pode esperar 

    O amor é uma agonia 
    Vem de noite, vai de dia 
    É uma alegria 
    E de repente 
    Uma vontade de chorar

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Samba de Orly

    Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Toquinho

    Vai, meu irmão
    Pega esse avião
    Você tem razão de correr assim
    Desse frio, mas beija
    O meu Rio de Janeiro
    Antes que um aventureiro
    Lance mão

    Pede perdão
    Pela duração dessa temporada
    Mas não diga nada
    Que me viu chorando
    E pros da pesada
    Diz que vou levando
    Vê como é que anda
    Aquela vida à toa
    E se puder me manda
    Uma notícia boa

    Pede perdão
    Pela omissão um tanto forçada
    Mas não diga nada
    Que me viu chorando
    E pros da pesada
    Diz que vou levando
    Vê como é que anda
    Aquela vida à toa
    Se puder me manda
    Uma notícia boa
  • A tonga da mironga do kabuletê

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Eu caio de bossa 
    Eu sou quem eu sou 
    Eu saio da fossa 
    Xingando em nagô 

    Você que ouve e não fala 
    Você que olha e não vê 
    Eu vou lhe dar uma pala 
    Você vai ter que aprender 
    A tonga da mironga do kabuletê 
    A tonga da mironga do kabuletê 
    A tonga da mironga do kabuletê 

    Eu caio de bossa 
    Eu sou quem eu sou 
    Eu saio da fossa 
    Xingando em nagô 

    Você que lê e não sabe 
    Você que reza e não crê 
    Você que entra e não cabe 
    Você vai ter que viver 
    Na tonga da mironga do kabuletê 
    Na tonga da mironga do kabuletê 
    Na tonga da mironga do kabuletê 

    Você que fuma e não traga 
    E que não paga pra ver 
    Vou lhe rogar uma praga 
    Eu vou é mandar você 
    Pra tonga da mironga do kabuletê 
    Pra tonga da mironga do kabuletê 
    Pra tonga da mironga do kabuletê

    Tonga Editora Musical LTDA
  • Pot-pourri nº 4: Como dizia o poeta / Testamento / Para viver um grande amor / Morena flor / Samba da volta / Regra três

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Como dizia o poeta
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Quem já passou 
    Por esta vida e não viveu 
    Pode ser mais, mas sabe menos do que eu 
    Porque a vida só se dá 
    Pra quem se deu 
    Pra quem amou, pra quem chorou 
    Pra quem sofreu, ai 

    Quem nunca curtiu uma paixão 
    Nunca vai ter nada, não 

    Não há mal pior 
    Do que a descrença 
    Mesmo o amor que não compensa 
    É melhor que a solidão 

    Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair 
    Pra que somar se a gente pode dividir? 
    Eu francamente já não quero nem saber 
    De quem não vai porque tem medo de sofrer 

    Ai de quem não rasga o coração 
    Esse não vai ter perdão

    Tonga Editora Musical LTDA


    Testamento
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Você que só ganha pra juntar 
    O que é que há, diz pra mim, o que é que há? 
    Você vai ver um dia 
    Em que fria você vai entrar 

    Por cima uma laje 
    Embaixo a escuridão 
    É fogo, irmão! É fogo, irrnão! 

    Falado 

    Pois é, amigo, como se dizia antigamente, o buraco é mais embaixo... E você com todo o seu baú, vai ficar por lá na mais total solidão, pensando à beça que não levou nada do que juntou: só seu terno de cerimônia. Que fossa, hein, meu chapa, que fossa... 

    Cantado 

    Você que não pára pra pensar 
    Que o tempo é curto e não pára de passar 
    Você vai ver um dia, que remorso! 

    Como é bom parar 
    Ver um sol se pôr 
    Ou ver um sol raiar 
    E desligar, e desligar 

    Falado 

    Mas você, que esperança... Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito 
    (e tome gravata!) e lá um belo dia, o enfarte; ou, pior ainda, o psiquiatra 

    Cantado 

    Você que só faz usufruir 
    E tem mulher pra usar ou pra exibir 
    Você vai ver um dia 
    Em que toca você foi bulir! 
    A mulher foi feita 
    Pro amor e pro perdão 
    Cai nessa não, cai nessa não 

    Falado 

    Você, por exemplo, está aí com a boneca do seu lado, linda e chiquérrima, crente que é o amo e senhor do material. É, amigo, mas ela anda longe, perdida num mundo lírico e confuso, cheio de canções, aventura e magia. E você nem sequer toca a sua alma. É, as mulheres são muito estranhas, muito estranhas 

    Cantado 

    Você que não gosta de gostar 
    Pra não sofrer, não sorrir e não chorar 
    Você vai ver um dia 
    Em que fria você vai entrar! 

    Por cima uma laje 
    Embaixo a escuridão 
    É fogo, irmão! É fogo, irmão!

    Tonga Editora Musical LTDA


    Para viver um grande amor
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Cantado 

    Eu não ando só 
    Só ando em boa companhia 
    Com meu violão 
    Minha canção e a poesia 

    Falado 

    Para viver um grande amor, preciso 
    É muita concentração e muito siso 
    Muita seriedade e pouco riso 
    Para viver um grande amor 
    Para viver um grande amor, mister 
    É ser um homem de uma só mulher 
    Pois ser de muitas - poxa! - é pra quem quer 
    Nem tem nenhum valor 
    Para viver um grande amor, primeiro 
    É preciso sagrar-se cavalheiro 
    E ser de sua dama por inteiro 
    Seja lá como for 
    Há que fazer do corpo uma morada 
    Onde clausure-se a mulher amada 
    E postar-se de fora com uma espada 
    Para viver um grande amor 

    Cantado 

    Eu não ando só, 
    Só ando em boa companhia 
    Com meu violão 
    Minha canção e a poesia 

    Falado 

    Para viver um grande amor direito 
    Não basta apenas ser um bom sujeito 
    É preciso também ter muito peito 
    Peito de remador 
    É sempre necessário ter em vista 
    Um crédito de rosas no florista 
    Muito mais, muito mais que na modista! 
    Para viver um grande amor 
    Conta ponto saber fazer coisinhas 
    Ovos mexidos, camarões, sopinhas 
    Molhos, filés com fritas, comidinhas 
    Para depois do amor 
    E o que há de melhor que ir pra cozinha 
    E preparar com amor uma galinha 
    Com uma rica e gostosa farofinha 
    Para o seu grande amor? 

    Cantado 

    Eu não ando só 
    Só ando em boa companhia 
    Com meu violão 
    Minha canção e a poesia 

    Falado 

    Para viver um grande amor, é muito 
    Muito importante viver sempre junto 
    E até ser, se possível, um só defunto 
    Pra não morrer de dor 
    É preciso um cuidado permanente 
    Não só com o corpo, mas também com a mente 
    Pois qualquer "baixo" seu a amada sente 
    E esfria um pouco o amor 
    Há que ser bem cortês sem cortesia 
    Doce e conciliador sem covardia 
    Saber ganhar dinheiro com poesia 
    Não ser um ganhador 
    Mas tudo isso não adianta nada 
    Se nesta selva escura e desvairada 
    Não se souber achar a grande amada 
    Para viver um grande amor! 

    Cantado 

    Eu não ando só 
    Só ando em boa companhia 
    Com meu violão 
    Minha canção e a poesia

    Tonga Editora Musical LTDA


    Morena flor
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Morena flor 
    Me dê um cheirinho 
    Cheinho de amor 
    Depois também 
    Me dê todo esse denguinho 
    Que só você tem 

    Sem você 
    O que ia ser de mim 
    Eu ia ficar tão triste 
    Tudo ia ser tão ruim 
    Acontece que a Bahia 
    Fez você todinha assim 
    Só pra mim

    Tonga Editora Musical LTDA


    Samba da volta
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Você voltou, meu amor 
    A alegria que me deu 
    Quando a porta abriu 
    Você me olhou 
    Você sorriu 
    Ah, você se derreteu 
    E se atirou 
    Me envolveu 
    Me brincou 
    Conferiu o que era seu 
    É verdade, eu reconheço 
    Eu tantas fiz 
    Mas agora tanto faz 
    O perdão pediu seu preço 
    Meu amor 
    Eu te amo e Deus é mais

    Tonga Editora Musical LTDA


    Regra três
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Tantas você fez que ela cansou 
    Porque você, rapaz 
    Abusou da regra três 
    Onde menos vale mais 

    Da primeira vez ela chorou 
    Mas resolveu ficar 
    É que os momentos felizes 
    Tinham deixado raízes no seu penar 
    Depois perdeu a esperança 
    Porque o perdão também cansa de perdoar 

    Tem sempre o dia em que a casa cai 
    Pois vai curtir seu deserto, vai. 
    Mas deixe a lâmpada acesa 
    Se algum dia a tristeza quiser entrar 
    E uma bebida por perto 
    Porque você pode estar certo que vai chorar

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  • Pot-pourri nº 5: São demais os perigos desta vida / As cores de abril / O filho que eu quero ter

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    São demais os perigos desta vida
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    São demais os perigos desta vida 
    Pra quem tem paixão principalmente 
    Quando uma lua chega de repente 
    E se deixa no céu, como esquecida 

    E se ao luar que atua desvairado 
    Vem se unir uma música qualquer 
    Aí então é preciso ter cuidado 
    Porque deve andar perto uma mulher 

    Deve andar perto uma mulher que é feita 
    De música, luar e sentimento 
    E que a vida não quer de tão perfeita 

    Uma mulher que é como a própria lua: 
    Tão linda que só espalha sofrimento 
    Tão cheia de pudor que vive nua

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    As cores de abril
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    As cores de abril 
    Os ares de anil 
    O mundo se abriu em flor 
    E pássaros mil 
    Nas flores de abril 
    Voando e fazendo amor 

    O canto gentil 
    De quem bem te viu 
    Num pranto desolador 
    Não chora, me ouviu 
    Que as cores de abril 
    Não querem saber de dor 

    Olha quanta beleza 
    Tudo é pura visão 
    E a natureza transforma a vida em canção 

    Sou eu, o poeta, quem diz 
    Vai e canta, meu irmão 
    Ser feliz é viver morto de paixão

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    O filho que eu quero ter
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    É comum a gente sonhar, eu sei, quando vem o entardecer
    Pois eu também dei de sonhar um sonho lindo de morrer
    Vejo um berço e nele eu me debruçar com o pranto a me correr
    E assim chorando acalentar o filho que eu quero ter
    Dorme, meu pequenininho, dorme que a noite já vem
    Teu pai está muito sozinho de tanto amor que ele tem

    De repente eu vejo se transformar num menino igual à mim
    Que vem correndo me beijar quando eu chegar lá de onde eu vim
    Um menino sempre a me perguntar um porque que não tem fim
    Um filho a quem só queira bem e a quem só diga que sim
    Dorme menino levado, dorme que a vida já vem
    Teu pai está muito cansado de tanta dor que ele tem

    Quando a vida enfim me quiser levar pelo tanto que me deu
    Sentir-lhe a barba me roçar no derradeiro beijo seu
    E ao sentir também sua mão vedar meu olhar dos olhos seus
    Ouvir-lhe a voz a me embalar num acalanto de adeus
    Dorme meu pai sem cuidado, dorme que ao entardecer
    Teu filho sonha acordado, com o filho que ele quer ter.
  • Pot-pourri nº 6: Chorando pra Pixinguinha / Choro chorado pra Paulinho Nogueira / Carta ao Tom

    Vinicius de Moraes, Toquinho, Paulinho Nogueira

    Chorando pra Pixinguinha
    (Vinicius de Moraes / Toquinho)

    Meu velho amigo 
    Chorão primeiro 
    Tão Rio antigo 
    Tão brasileiro 

    Teu companheiro 
    Chora contigo 
    Toda a dor de ter vivido 
    O que não volta nunca mais 
    E na emoção deste chorinho carinhoso 
    Te pede uma bênção de amor e de paz

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    Choro chorado pra Paulinho Nogueira
    (Toquinho / Vinicius de Moraes / Paulinho Nogueira)

    Quanta saudade antiga 
    Quanta recordação 
    O toque paciente 
    De tua mão amiga 
    Me ensinando os caminhos 
    Corrigindo os defeitos 
    Dando todos os jeitos 
    Pras notas brotarem 
    Do meu violão 

    Ah, como eu me lembro ainda 
    Cheio de gratidão 
    A hora entardecente 
    A nostalgia infinda 
    No modesto ambiente 
    Da casinha da praça 
    E eu em estado de graça 
    De estar aprendendo a tocar violão 

    E hoje nós dois 
    Tempos depois 
    Damos com nova emoção 
    Um novo aperto de mão 
    Neste chorinho chorado juntos 
    E que, tomara, renasça em muitos 

    Pois a maior alegria 
    É chorar de parceria 
    Num chorinho que é só coração 
    E relembrar que o passado 
    Vive num choro chorado 
    Pelo teu e o meu violão

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    Carta ao Tom
    (Toquinho / Vinicius de Moraes)

    Rua Nascimento e Silva, 107 
    Você ensinando pra Elizete 
    As canções de Canção do amor demais 

    Lembra que tempo feliz 
    Ah, que saudade 
    Ipanema era só felicidade 
    Era como se o amor doesse em paz 

    Nossa famosa garota nem sabia 
    A que ponto a cidade turvaria 
    Esse Rio de amor que se perdeu 
    Mesmo a tristeza da gente era mais bela 
    E além disso se via da janela 
    Um cantinho de céu e o Redentor 

    É, meu amigo, só resta uma certeza 
    É preciso acabar com essa tristeza 
    E preciso inventar de novo o amor

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  • Cotidiano nº2

    Vinicius de Moraes, Toquinho

    Há dias que eu não sei o que me passa 
    Eu abro o meu Neruda e apago o sol 
    Misturo poesia com cachaça 
    E acabo discutindo futebol 

    Mas não tem nada, não 
    Tenho o meu violão 

    Acordo de manhã, pão sem manteiga 
    E muito, muito sangue no jornal 
    Aí a criançada toda chega 
    E eu chego a achar Herodes natural 

    Mas não tem nada, não 
    Tenho o meu violão 

    Depois faço a loteca com a patroa 
    Quem sabe nosso dia vai chegar 
    E rio porque rico ri à toa 
    Também não custa nada imaginar 

    Mas não tem nada, não 
    Tenho o meu violão 

    Aos sábados em casa tomo um porre 
    E sonho soluções fenomenais 
    Mas quando o sono vem e a noite morre 
    O dia conta histórias sempre iguais 

    Mas não tem nada, não 
    Tenho o meu violão 

    Às vezes quero crer mas não consigo 
    É tudo uma total insensatez 
    Aí pergunto a Deus: escute, amigo 
    Se foi pra desfazer, por que é que fez? 

    Mas não tem nada, não 
    Tenho o meu violão

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