Áudio

“Vinicius – Poesia, música e paixão” é o mais completo documentário feito sobre Vinicius de Moraes. Foi produzido pela Rádio Cultura AM em 1993, por ocasião dos 80 anos do poeta e compositor, e volta a ficar acessível ao público duas décadas depois, para marcar o centenário (em 19 de outubro de 2013) de um dos mais importantes artistas brasileiros. O documentário vai ao ar numa parceria da Rádio Batuta (www.radiobatuta.com.br) com a Rádio Cultura Brasil (www.culturabrasil.com.br) e a VM Cultural, que representa a família de Vinicius. A série de 32 programas, cada um com quase uma hora de duração, tem roteiro, entrevistas e apresentação do jornalista João Máximo, um dos maiores conhecedores da história da música brasileira e biógrafo de Noel Rosa. Georgiana de Moraes, filha de Vinicius, participou da produção e das entrevistas. Há depoimentos de Tom Jobim, Chico Buarque, Baden Powell, Carlos Lyra, Edu Lobo, Francis Hime, Toquinho e vários outros artistas, além de irmãos do poeta e três das nove mulheres com quem ele se casou.

Luzes da ribalta

Vinicius era apaixonado por Luzes da ribalta, de Charlie Chaplin. Neste programa, é lida a crônica que ele escreveu sobre o filme, que amava mais por sua ligação com o teatro. João Máximo narra aqui os projetos do poeta para os palcos após Orfeu da Conceição. O drama lírico Cordélia e o peregrino nunca foi encenado, assim como o musical Blimp, mas este rendeu a primeira versão de Garota de Ipanema. A adaptação de Jesus Cristo superstar também não foi encenada, ao contrário de Deus lhe pague, espetáculo grande (com Walmor Chagas, Marília Pêra, Marco Nanini e outros) que não foi um sucesso, mas reengatou a parceria entre Vinicius e Edu Lobo.

O cinema dos meus olhos

A paixão de Vinicius de Moraes pelo cinema o levou a se tornar amigo de Orson Welles e ter aulas com Gregg Toland, o cinegrafista de Cidadão Kane. Também escreveu artigos sobre o assunto, reunidos no livro O cinema dos meus olhos. E se tornou parceiro de Pixinguinha, "o ser humano mais admirável" que conheceu na vida. "Meu querido pai", dizia o poeta. Foi para o longa-metragem Sol sobre a lama, de Alex Viany, que Vinicius fez letra para Lamento (antes chamada Lamentos) e os dois compuseram outros temas, como Samba fúnebre. João Máximo fala neste programa dos outros filmes em que Vinicius se envolveu, dos quais saíram canções como Olha, Maria.  

O branco mais preto do Brasil

Os afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes não foram um projeto premeditado, racional, mas uma necessidade de ambos seguirem impulsos da sua natureza, ressalta João Máximo neste programa. Vinicius escreveu o poema Blues para Emmet Louis Till em homenagem a um menino assassinado no Alabama e sempre destacou sua afinidade com os sons e os traços culturais africanos. Dizia-se "o branco mais preto do Brasil", como em Samba da benção. Baden, que condensou no violão Rio, Bahia e África, foi o parceiro perfeito.

Rancho das flores

Vinicius escreveu vários poemas e canções dedicados às flores, sobretudo às rosas. No programa estão Samba da rosaO velho e a rosaO tempo da florFlor da noite e outras músicas, além dos versos de Rosa de Hiroshima recitados. E estão depoimentos de parceiros, como Baden Powell e Toquinho, e mulheres que conviveram com ele, casos de Elizeth Cardoso e Maria Clara Machado. As paixões intensas do poeta, repletas de um ciúme que o levava a bater com uma garrafa na própria cabeça, são relatadas por filhas e mulheres (como Cristina Gurjão, seu sexto casamento) e retratadas em Medo de amar, na voz de Nana Caymmi.

Saudades do Brasil

No momento mais repressivo da ditadura militar, entre o final da década de 1960 e os primeiros anos da de 1970, Vinicius de Moraes ficou muito tempo fora do Brasil. Fazendo shows ou encontrando amigos, esteve na Argentina, na Itália, na França, muito em Portugal (onde fez o fado Saudade do Brasil em Portugal, cantado por Amália Rodrigues). Um tempo de novas experiências e de bastante tristeza e apreensão, como mostram os relatos de Tom Jobim, Chico Buarque, Toquinho e outros a João Máximo. O programa conta com Vincius lendo seu poema Pátria minha.

Poeta, moça e violão - 1ª parte

Ao lado do jovem Toquinho, Vinicius de Moraes se descobriu um showman, fazendo turnês, cantando suas músicas, contando histórias no palco, lembra João Máximo neste episódio. Foram dez anos intensos, iniciados na Argentina, com um show (e disco ao vivo) em que a dupla era acompanhada de Maria Creuza. Depois, vieram outras cantoras para compor a trinca "poeta, moça e violão", como Maria Bethânia e Marília Medalha. Toquinho e Vinicius fizeram muito sucesso graças a Como dizia o poetaTarde em Itapoã, Cotidiano nº 2. e muitas outras composições. Tanto sucesso custou ataques por parte da crítica, sobretudo a acadêmica. "Confudiram nosso trabalho com música fácil", diz Toquinho no programa, assumindo que o objetivo deles era mesmo conquistar popularidade com simplicidade. De todas as parcerias, a mais criticada foi A tonga da mironga do kabuletê.

Poeta, moça e violão - 2ª parte

Assim como no episódio anterior, Toquinho é o parceiro de Vincius nas histórias vividas na década de 1970, a começar pelos shows com Clara Nunes (na foto, os três juntos). Era uma época em que eles estavam sob a mira da Censura e dos críticos, que condenavam a simplicidade de suas composições. "Eu sempre fui partidário de uma linha mais simples de canção", diz Toquinho em entrevista a João Máximo para o documentário. Mas também viviam em muitas festas, entre risos e mulheres. Ouve-se no programa o poeta recitando sua homenagem a três Pablos mortos em 1973: Picasso, Neruda e Casals. O poema termina com um palavrão contra o "ano assassino". E ele e Toquinho cantam duas músicas que se complementam ao falar de amor e desamor: Regra três e Samba da volta.

O carioca mais baiano do mundo

A afinidade entre Vinicius de Moraes e a Bahia teve seu ápice em 1972, quando o poeta se casou (pela sétima vez) com Gesse Gessy, tendo Jorge Amado e Zélia Gattai como padrinhos, e foi viver em Salvador, enfronhando-se de vez no candomblé. Mas sua porção baiana era antiga, estimulada, por exemplo, pela amizade com Dorival Caymmi. Os dois e as também baianas do Quarteto em Cy realizaram um show de sucesso que ficou um ano e meio em cartaz, tendo estreado em dezembro de 1964 na boate Zum Zum, em Copacabana. Este programa lembra momentos desse show que ficaram clássicos, como os de Vinicius lendo "Carta ao Tom" e "Dia da criação". Anos depois, ele escreveu versos como "a patota de Ipanema não me interessa mais" e deixou (provisoriamente) o Rio. Como sempre, foi atraído por uma paixão, que acabou com muita dor. "Vinicius viveu sob o signo da paixão", resume o parceiro Toquinho em entrevista a João Máximo.

Telinha pequena

Vinicius de Moraes detestava TV, que chamava de "telinha pequena". Mas se acostumou a participar de programas como O fino da bossa. Não gostava de festivais, mas aceitou ter músicas em parceria com Edu Lobo inscritas em dois: em 1965, vencendo com Arrastão, na interpretação de Elis Regina; em 1966, com Canto triste. Ao lado de Toquinho, fez trilhas para novelas, sendo a mais bem-sucedida a de O bem-amado, da qual estão neste programa No colo da serra e Paiol de pólvora. O episódio tem entrevistas com Chico Buarque, Edu Lobo, Baden Powell e Toquinho.

Arca de Noé

Vinicius começou em 1950 a escrever poemas infantis inspirados na Bíblia, principalmente na história da Arca de Noé. Antes mesmo de virar livro, parte dos versos foi musicada por Paulo Soledade, como os de "São Francisco". "O pato" e "O peru". Em 1980, pouco antes de morrer, Vinicius concluiu os temas ao lado de Toquinho, com quem já vinha compondo a trilha. As canções deram origem a dois discos que se tornaram históricos, o primeiro mais bem realizado do que o segundo, como ressalta João Máximo. Neste programa, ouvimos "Corujinha" (com Elis Regina), "O gato" (com Marina), "A foca" (com Alceu Valença) e outras músicas.