voltarMovie

Espada contra espada

Última Hora , 25 de Abril de1952

Desta vez é o produtor inglês J. Arthur Rank quem nos presenteia com um drama folhetinesco de qualidade duvidosa, no gênero de várias películas em tecnicolor que temos assistido, ultimamente, com títulos mais ou menos semelhantes: A espada do rei, A rainha e o soldado, Espada sangrenta, etc., todos muito parecidos, envolvendo personagens reais, intrigas da corte e grande vigaristas da época. 

A viúva relutante (pois este é o título original do filme) não foge a esse padrão, sendo porém em preto-e-branco. É uma história bastante complicada, que irrita ao espectador, obrigando-o a prestar atenção para não se perder no meio de grandes confusões sem o menor interesse. As situações são forçadas e os personagens muito pouco convincentes; ao contrário do que nos sugere o título, a viúva em questão é uma senhora bastante condescendente, que passeia generosos decotes pelo filme afora e beija o namorado na frente do marido sem maior cerimônia. Trata-se de uma mulher bonita, não há dúvida, mas tão fiteira, tão fiteira, coitadinha, sempre a fazer beicinhos provocantes e trejeitos "saquíssimos", que me lembraram demais uma bela senhora de nossa alta sociedade, perita em estender, distender e retorcer a boca nas mais tentadoras caretas. 

Espada contra espada, mesmo que é bom, nada. Há apenas uma cena de duelo (aliás muito boa, a melhor coisa da fita) e o resto é só intriga, namoro e mexerico. A história envolve ingleses e franceses, fala ligeiramente em Napoleão, e dá a entender que naquele tempo já havia grandes trapalhadas entre as pessoas consideradas "bem". 

Há, porém, uma coisa verdadeiramente encantadora no filme. É o guarda-roupa, absolutamente fiel aos costumes da época e de um bom gosto extraordinário. Não sou o que se chama uma autoridade em moda, mas me pareceu que a daquele tempo favorecia muito mais as mulheres, com aquela exibição deliciosa de grandes decotes, muita renda e muita fita. 

A direção de Bernard Knowles é medíocre, como de resto tudo o mais. Não sei por que é que em vez de segunda ordem, como esta e Bond Street, que vimos há algumas semanas atrás, não nos trazem O pária das ilhas, de Carol Reed, por exemplo, que é uma boa fita e tantas outras, à altura de O terceiro homem. 

É verdade que a semana passada foi generosa com os fãs do bom cinema, mas em compensação esta semana tem até Esther Williams, que, cá pra nós, consegue chatear famílias inteirinhas.