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Correio do inferno

Última Hora , 19 de Julho de1951

Com uma fotografia por vezes espetacular, de Milton Krasner - a das primeiras cenas sobretudo - este filme da 2Oth. Century Fox repete uma velha história que Hollywood tem explorado à exaustão: o casal no deserto, aprisionado por um bando de facínoras (no meio dos quais há um que é um bom sujeito), sob risco constante de vida, e que no final se salva pelo heroísmo e pelo amor. Desta feita quem alinhavou a trama foi Dudley Nichols, que Henry Hathaway dirige com a sua falta de proficiência. Há uma criança pequena que passeia incólume entre o silvar de balas e que provoca comentários na platéia feminina: "Que gracinha!" "Que amor!"
 
Susan Hayward com um decote em V maiúsculo não deixa de emprestar um certo ar picante a essa produção de Sam Engel - que é, por sinal, o americano mais doido pelo Brasil que vi em Hollywood. Um bandido de cara lombrosiana, interpretado por Jack Elam, e que depois de dois anos de grade fica completamente aloprado quando vê Susan Hayward, deu vazão a que a censura fizesse o filme impróprio para menores até 14 anos. O que não creio tivesse adiantado muito, pois ingressei no Ipanema pouco depois de dois garotos que não teriam mais de 12. 

Tyronne Power continua mau ator como sempre e surpreendentemente moço como sempre. Hathaway procurou congelá-lo o mais possível, mas nem dentro de uma interpretação que pouco esforço exige consegue ele esconder a sua fundamental negação artística. O melhor do grupo é Hugh Marlowe, que na pele do criminoso Zimmerman consegue por vezes movimentar a ação de um modo mais convincente. 

Correio do inferno é um filme na linha crime-e-violência com que Hollywood põe fumaça nos olhos das platéias mundiais para encobrir a sua inépcia e desumanidade. Um filme que se esquece imediatamente ao sair do cinema, sobretudo se se olhar para o céu e ver a lua, essa doce lua de julho que tem brilhado sobre o Rio com uma luz tão perfeitamente íntima.