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Canção

Rio de Janeiro , 1946

Não leves nunca de mim 
A filha que tu me deste 
A doce, úmida, tranqüila 
Filhinha que tu me deste 
Deixe-a, que bem me persiga 
Seu balbucio celeste. 
Não leves; deixa-a comigo 
Que bem me persiga, a fim 
De que eu não queira comigo 
A primogênita em mim 
A fria, seca, encruada 
Filha que a morte me deu 
Que vive dessedentada 
Do leite que não é seu 
E que de noite me chama 
Com a voz mais triste que há 
E pra dizer que me ama 
E pra chamar-me de pai. 
Não deixes nunca partir 
A filha que tu me deste 
A fim de que eu não prefira 
A outra, que é mais agreste 
Mas que não parte de mim.

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