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A vã pergunta

Rio de Janeiro , 2004

Esta jovem pensativa, de olhos cor de mel e de longas pestanas penumbrosas 
Que está sentada junto àquele jovem triste de largos ombros e rosto magro 
É ela a amada dele e é ele o amado dela e é a vida a sombra trágica dos seus gestos? 
Este trem veloz cheio de homens indiferentes e mulheres cansadas e crianças dormindo 
Que atravessa esta paisagem desolada de árvores esparsas em montes descarnados 
É ele o movimento e é ela a fuga e são eles o destino fugitivo das coisas? 
Que dizem os lábios murmurantes dele aos olhos desesperados dela? 
Que pronunciam os lábios desesperados dela aos olhos lacrimejantes dele? 
Que pedem os olhos lacrimejantes dele à paisagem fugindo? 
Não são eles apenas uma só mocidade para o tempo e um só tempo para a eternidade? 
Não são seus sonhos um só impulso para o amor e os seus suspiros um só anseio para a pureza? 
Por que este transtorno de faces e esta consumição de olhares como para nunca mais? 
Não é um casto beijo isso que bóia aos lábios dele como um excedimento da sua alma? 
Não é uma carícia isso que freme nas mãos dela como um arroubo da sua inocência ? 
Por que os sinos plangendo do fundo das consolações como as vozes de aviso dos faróis perdidos? 
É bem o amor essa insatisfação das esperanças?