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As novas possibilidades

A Manhã , 16 of May of 1943

Em sua entrevista coletiva da semana passada deu John Ford uma notícia alvissareira para todos os que, como eu, se interessam pelo desenvolvimento do cinema no Brasil. Disse ele que Gregg Toland, o grande cameraman americano, estava para chegar ao Rio, onde viria filmar sob a sua direção uma série de documentários sobre o nosso esforço de guerra. Isso é muito bom. Mas o melhor é que Gregg Toland vem disposto não apenas a filmar, mas a ensinar também. Dará, no intervalo de suas operações, um curso de técnica de filmagem, que não tenho dúvida será uma coisa esplêndida. Poucos homens de câmera podem encostar hoje em dia com Toland, sobretudo no que diz respeito à iluminação. A não ser um Rudolph Maté, um Struss, um Edgar Brazil, o magnífico cameraman de Limite, poucos homens conheço, dentro do métier, que não gostariam de aprender filmagem com Toland. O seu processo de pan-focus trouxe realmente alguma coisa de novo à técnica de tomar a imagem. O processo em si é uma coisa notável: com lentes especiais e uma iluminação de invenção sua, Gregg Toland consegue que todos os planos se tornem igualmente nítidos na imagem, embora diferentemente situados em relação à câmera. Isso cria aquela impressão de volume e profundidade que a imagem em Cidadão Kane tantas vezes dá.

Imagine-se a possibilidade de aprender a iluminar com um homem assim! Jorge de Castro, o nosso grande jorginho, que é um ótimo fotógrafo, estava todo assanhado. Não é para menos. Já que não se aproveita oficialmente o conhecimento de um patrício nosso como Edgar Brazil, que é um "moita" irremediável, aproveitamos o de um estrangeiro ilustre! Três ou quatro homens com um conhecimento perfeito de iluminação - sobretudo de interiores, não me fartarei nunca de repetir! - fariam no Brasil um cinema de causar inveja a qualquer país. Porque temos grandes cineastas em potência, entre nós. Um já plenamente revelado - Mário Peixoto -, outros cuidando de outros assuntos: um Plínio Sussekind, um Otávio de Faria, que sabem escrever roteiros e dirigir espontaneamente, embora dentro de tendências cinematográficas opostas. Eu sou um que me candidato a fazer esse curso. Conhecer teoria de cinema não basta. É preciso conhecer a malícia da máquina e do aparato mecânico de que se cerca a arte. Aliás, eu preciso confessar uma coisa: esse negócio de fingir de funcionário do Estado está longe de ser a coisa de que eu gosto. Eu gostaria era de fazer cinema. Começar com pequenos curtas: sobre o Rio, sobre o edifício do Ministério da Educação, sobre as crianças cariocas, sobre coisas vitais da nossa terra como o negro, o samba, a mulher, a natureza, dentro de quadros novos, alguns irrevelados. Quanta beleza a se revelar por esse Brasil afora! Depois, metragens grandes. Eta coisa gostosa que ia ser!