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Ao cair do pano

Última Hora , 5 of March of 1952

Da primeira fila à esquerda do Cine Rian - onde fui convenientemente regado pela goteira que cai do teto daquela sala de espetáculo - assisti eu a este novo musical de Betty Grable, produzido por George Jesselfe dirigido por Richard Sale.
 
Como em todos os musicais que saem de Hollywood, a história deste é completamente cretina, e não fossem uns poucos bailados que colorem a produção, o filme não prestaria para nada. Mas os bailados em questão, apesar de não valerem nada como arte, são divertidos dentro do gênero sofisticado. Representam, de certo modo, um programa dentro do tipo comum de ballet do musical americano.
 
Miss Grable ostenta as suas famosíssimas pernas que continuam inteiramente em forma, mas o diabo é que o resto do seu corpo não tem mantido a qualidade física de suas celebradas hastes. O busto de miss Grable está um pouco pletórico demais, e sua outrora linda barriguinha começa a mostrar os primeiros sinais da ação do tempo. Mas apesar disso, a colorida e insossa estrela não se sai mal desta fita, e apresenta-se bem mais animada, bem mais viva que no comum dos filmes em que aparece - e isso, creio, muito devido à graça falso-moderna dos bailidos e a umas poucas canções de falso-jazz que interpreta.
 
Muito melhor que o filme é um jornal da Gaumont que dá um relato cinematográfico completo dos funerais de George VI na Inglaterra. A filmagem é esplêndida, e a pompa fúnebre da cerimônia é dada em todos os detalhes, com uma grande dignidade. A atmosfera da cidade parece se haver sublimado para o último trajeto do rei, e há uma "panorâmica" da Torre de Londres (a máquina se elevando lentamente do cortejo para tomar a importante estrutura erguida dentro da neblina) que é positivamente emocionante.

O jornal em questão paga muitas das bobagens de que está o filme de Betty Grable cheio (salvo apenas por esses poucos números de ballet, que realmente exercem um fascínio sofisticado e passageiro). Mas eu aconselho os fãs de Copacabana a não se sentarem nas primeiras filas à esquerda. O reboco do teto está caindo, e eu fui pessoalmente atingido por um estilhaço que ainda está me doendo. A coisa toda é um perigo; ou muito me engano, ou um dia desses um pedaço daquele teto estará esmagando o crânio de algum copacabanense incauto.